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Educação


Paulo Freire na mira de Bolsonaro



Como já deixei claro em edições anteriores, assumo abordagem ideológica de centro esquerda. Minha cosmovisão está inserida nesse viés. É por ele que sonho um projeto de sociedade e foi por meio dele que atuei como educador.
Volto a reforçar que não existe educação neutra. A tentativa de uma neutralidade ideológica já é atitude ideológica capaz de erros.  A esquerda brasileira errou muito desde a década de 80. Todavia, me parece que a evolução científica, religiosa e artística se identifica com a esquerda. O governo ultraconservador de Bolsonaro, apesar de ter uma equipe econômica com agenda mais neoliberal, vai caminhar para um retrocesso capaz de assustar mesmo os homens da direita e centro direita. É o caso, agora, do patrulhamento ideológico oficial do governo contra as ideias do intelectual pedagogo, Paulo Freire. Irreparável equívoco na minha percepção. Entre os poucos detalhes conhecidos sobre os planos para a educação do novo governo, chama a atenção no programa de Jair Bolsonaro (PSL) a citação ao nome de um educador. O presidente quer expurgar Paulo Freire das escolas brasileiras. Não há detalhes sobre o significado prático disso, mas a ideia é criticada por educadores. Seu método e filosofia exercem forte influência em algumas das melhores escolas do país. Além disso, Freire é o intelectual brasileiro mais reconhecido em todo o mundo.
Para especialistas, o pernambucano, morto em 1997, transformou-se em bode expiatório para quem acusa professores de uma suposta doutrinação. Estaria na obra de Freire, e na sua influência entre professores, ferramentas para um ensino sectário, além de uma das explicações para os fracassos da educação pública nacional ? o que não é compartilhado por líderes de escolas de elite.
Nascido em 1921, no Recife, Freire desponta como referência para a educação popular no início dos anos 60, quando desenvolve um bem-sucedido método de alfabetização de adultos em Angicos, interior do Rio Grande do Norte. O método, que parte dos saberes e experiências acumuladas, ganhou o mundo.
O autor desenvolveu uma pedagogia crítica (que foi além do método de alfabetização) com princípios fincados no diálogo entre professores e estudantes e no valor da educação como ferramenta para emancipação individual e social.
?É a visão de que educar é um ato político, não partidário, nem de esquerda, mas da escola envolvida nos problemas contemporâneos?, diz Franciele Busico, professora do Instituto Singularidades e coordenadora pedagógica na rede municipal de São Paulo.
O principal livro de Freire, ?Pedagogia do Oprimido?, está entre as cem obras mais citadas em língua inglesa, segundo o Google Scholar, ferramenta de literatura acadêmica. É o único brasileiro nessa lista. Na área de educação, aparece como o segundo mais referenciado ?o volume de citações é um dos mais importantes indicadores de relevância científica.
Educadores estrangeiros como Peter McLaren e Michael Apple dialogam com sua obra. Há centros de estudos inspirados em Freire em países como Finlândia e Canadá. O economista Martin Carnoy lembra que o conceito de educação ?como libertação da ignorância e subjugação política? é tema comum na filosofia do Iluminismo, de Rousseau, Thomas Jefferson, até mesmo de John Stuart Mill. Carnoy é professor em Stanford (EUA) desde 1969. ?O ataque de Bolsonaro a Freire?, escreveu ele à Folha, ?é um ataque aos próprios fundamentos da democracia ocidental e ao conceito de liberdade?.
Ocorreram exageros do professor de esquerda em apostar nas ideologias de esquerda como redentoras e salvacionistas sociais. Todavia, não vejo a possibilidade de avançar no conceito de democracia com ideologias de direita.  Hierarquia, respeito e ordem não são privilégios delas. São conceitos indispensáveis aos ambientes de liberdade e autonomia. E a paramilitarização da educação (de direita ou esquerda) seria um retrocesso e um apequenamento desses princípios. É a primeira vez que vejo uma democracia militarizada com fortes tendências fundamentalistas religiosas. Será uma aberração criar um estado teocrático dentro de um Estado leigo. Só rindo!

José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ e membro da ACLCL
Contato ? [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 18/01/2019




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