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Educação


O mito da escola sem ideologias



A Faculdade Mackenzie, de São Paulo, sempre formou uma clientela da classe média alta para ser a elite brasileira. Figuras como Paulo Maluf ilustram bem o que quero dizer. Você acreditaria que ela não tem partido ou ideologia? A escola é doutrinadora por definição, principalmente as confessionais.
Essas mensagens que estão aparecendo em nosso WhatsApp com fortes conteúdos religiosos apelativos, falando de Deus acima de tudo, com fortes sentimentos nacionalistas, são frutos da doutrinação de alguma escola ou religião. Ou são geradas espontaneamente na cabeça dos sujeitos? As direitas têm as mesmas atitudes doutrinadoras que condenam nas esquerdas. Só mudam o foco e intencionalidade. Nada inocente. Tudo ideológico. De onde tiraram, então, esse discurso defensor de uma escola sem partido? Isso já é ideológico. Simples de perceber, não?
Quando eu cursava Filosofia na PUC-MG, ainda na década de 80, em pleno crescimento e consolidação da ideologia de esquerda no Brasil, tive professores de direita e de esquerda. A Universidade tinha alunos com partidos e ideologias em conflito. Estudei autores conservadores e progressistas. Como cidadão, optei por não adotar o radicalismo que vi nos dois lados. Uma das maiores decepções que tive como estudante, ainda no ensino médio foi concluir que existiram ditaduras tanto de direita como de esquerda. Isso me tirou todo sonho socialista.
Decidi por ideologias de centro-esquerda.  E me defini como um cidadão de ideologia de centro. Na década de 80, isso cheirava a tentativa de neutralidade, de gente que ?nem fedia e nem cheirava? ou de gente que vivia ?em cima do muro?, mas me mantive centrista até hoje, mesmo tendendo à esquerda.
Quando me tornei professor, principalmente em escola particular, influenciado pela abordagem teórica da pedagogia crítico reprodutivista, fiz, desde cedo, uma pergunta muito radical para mim: ?A qual senhor eu servirei como educador?? Eu sabia que não existia neutralidade para ajudar na formação dos alunos para a cidadania. Todo dia, eu entrava em sala me perguntando: ?Que tipo de cidadão eu quero formar??, ?Com que projeto de sociedade eu sonho??
E como eu via muitos erros no sistema capitalista e no modelo social brasileiro, eu sempre achei que a escola deveria ter por vocação política e ideológica se tornar instituição questionadora do sistema. Para mim, a escola não poderia ensinar os alunos a reproduzir o que lhes oprimia, mas a reagir contra as mazelas do sistema. Para isso, caberia lançar críticas às religiões, à economia e aos regimes políticos, fossem de esquerda e de direita.
Como professor, jamais fanatizei um discurso, pois a Filosofia me fez crer que ter pensamento crítico era criar a capacidade de relativizar as verdades proclamadas por quem quer que fosse, da família ao Estado. Evidentemente que isso me custou sérios conflitos, a começar pelo desmonte de minhas antigas convicções e conceitos. Quando estudei sobre a dúvida metódica de René Descartes, quase pirei.  Não foi fatal, pois, como disse, nunca fui extremista. Isso me permitiu questionar, antes de tudo, os próprios fundamentos dos meus questionamentos. Foi uma luta, uma revolução interna!
Concluí que deveria provocar, também, uma revolução nos pensamentos acomodados dos meus alunos. Eu provocava ideias, cuidando para não fanatizar. Tive alunos incríveis que discordaram de mim. Jamais os persegui. Para mim, a essência de uma escola democrática está na sua capacidade de discutir ideias, se quiser formar pessoas seguras e independentes, bem ao contrário do que muitas famílias e religiões fazem, moldando sujeitos submissos e inseguros que só sentem culpas sobre culpas.
Alguém poderia dizer se conseguiu ficar neutro quanto ao que era falado e tratado nas escolas onde estudou? Lembra das vezes que você pensou diferente dos seus professores e tomou decisões contrárias a eles? Então, você é a prova viva de que escola sem partido e sem ideologias é conversa fiada. Querer escolas sem discussões sobre condições sexuais e sobre manipulações religiosas e políticas já é uma decisão político-ideológica.

José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ e membro ACLCL
Contato: [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 23/11/2018




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