A paralisação dos caminhoneiros no Brasil mostrou que não somos solidários como as redes de TV e as Igrejas proclamam. Fiquei bastante decepcionado com os nativos da terra da Santa Cruz. Nesses 10 dias, pudemos ter aulas de como ser individualistas e nada solidários. Foi a isso que o mundo assistiu pelas redes sociais e de televisão. Eis a nossa originalidade de povo de profunda alma religiosa. Se é que ainda não estou ingênuo em relação às religiões.
O que, deveras, me fez refletir nesse período foram algumas mensagens recebidas. Uma dizia: ?Japão ? Após o Tsunami a população comprava o estritamente necessário, para não prejudicar o próximo. EUA ? Após o estrago do furacão Katrina, o comércio vendia bens a preço de custo para ajudar a população. França ? Depois dos atentados terroristas, os motoristas desligaram o taxímetro e faziam corridas grátis para a população. Brasil ? Greve de caminhoneiros: comerciantes vendiam gasolina a R$9,99 o litro e a batata foi reajustada em 90%. Alface a quase R$9 o molho. O nosso problema não é apenas dos políticos. Que país é este??
Eu me lembro bem, em 2015, quando as redes de TV anunciaram como os taxistas franceses atendiam as pessoas. Fiquei muito feliz de ver a atitudes deles. A gente sempre conclui: que bom! Ainda existe solução para o mundo. Ou então: nem tudo está perdido. Ainda dá para confiar na espécie humana. Porém, o que acabamos de ver nos fazer pensar em quê? Reinou ainda a lei do levar vantagem e de uma consciência ecológica que ainda só está no papel. Por que carros de passeios não podiam ficar parados e por que as pessoas não podiam andar a pé?
Dizer o quê? Esse é o país mais religioso da América Latina? Só rindo! Ou os comerciantes oportunistas e os usuários que dormiram na fila são todos agnósticos ou ateus? Outra mensagem que recebi foi a de uma suposta cidadã paraguaia, com forte entonação gaúcha, mas que falava ?do meu Paraguai? e como paravam o país indo para as ruas. Essa cidadã criticou indignada a atitude omissa e individualista dos brasileiros. Ela dizia que se estivesse em nosso território já teria ido para a rua para protestar.
Fiquei pensando como pedir desculpas a ela pelo nosso procedimento de gente de fé, mas isso ia adiantar pouco. Mas já ia servir para alguma coisa, da mesma forma que ela expressou que a presença dela nas ruas brasileiras não ia mudar a situação, mas já serviria para alguma coisa. Perdoe nossos pecados sociais, querida cidadã paraguaia.
Já uma terceira mensagem apresentava dois paradigmas muito elaborados de forma muito inteligente. Eis o primeiro: Paradigma da Escassez - *Se não tem para todo mundo. Se não tem pra todo mundo, temos medo de que falte. Se temos medo de que falte, competimos para criar estoque. Quando criamos estoques, retiramos de circulação, diminuindo o fluxo. Quando diminuímos o fluxo, aumentamos o custo de transação. Quando aumentamos o custo de transação, excluímos aqueles que não podem pagar. E, se excluímos aqueles que não podem pagar, a profecia se autorrealiza, ou seja: não tem pra todo mundo.?
Agora, eis o segundo: Paradigma da Abundância - * Tem pra todo mundo. Se tem pra todo mundo, acreditamos que vai ter. Se tem para todo mundo, em vez de competir para criar estoques, colaboramos para criar. Quando criamos, aumentamos o fluxo. Quando aumentamos o fluxo, diminuímos o custo de transação. Quando diminuímos o custo de transação, incluímos aqueles que não podem pagar. E, se incluímos aqueles que não podem pagar, a profecia se autorrealiza, ou seja: tem pra todo mundo.?
Como toda realidade humana é incompleta, resta lembrar que o capitalismo como realidade social é, por si só, a imagem do primeiro paradigma. E, para existir e persistir e perpetuar, ele precisa garantir a desigualdade social. Capitalismo sem desigualdade social econômica é outra coisa, menos capitalismo. Portanto, jamais teríamos a vivência do segundo paradigma dentro de nossa sociedade. Capitalismo e religiões não se estranham, pactuam e formam o sujeito individualista. Solidariedade não ultrapassa o nível do desejo. Costuma ser prática de exceção. Homo lupus homini!
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Escrito por Educação, no dia 14/06/2018