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Educação


Celular em sala de aula - Parte II



Na edição anterior, iniciei essas reflexões sobre a lei que permite o uso de celular no estado de São Paulo, o impacto dessa decisão na relação professor x aluno e os desafios de adicionar os móbiles como instrumento didático de aprendizagem. Eis alguns depoimentos de alunos e as formas que alguns professores acharam para conviver com o celular em suas aulas.

?Lorhaynne Xavier recebeu seu primeiro celular da mãe há cinco anos, quando tinha 11 anos. Empregou uma única função além do uso como telefone: "Era dos pequenininhos, mas ótimo para música. Eu adorava, escutava o tempo todo'.

Mas o aparelho caiu no chão e ela acabou com um Galaxy, que veio com WhatsApp. Tudo mudou: "Fiquei frenética. Usava o dia inteiro. Fui ficando bastante viciada naquilo, usava na escola escondido e em casa sem parar. Ficava trocando mensagens com grupos, editando música, indo no Face. Acabou que tive um problema de vista", diz a menina. 

"Só melhorou quando minha mãe colocou limites: de manhã pode um pouco, de noite outro pouco". O controle gerou resultados. Apareceu tempo para fazer as lições da escola ?"antes não dava tempo"?, foi possível começar a atender aos apelos dos professores para tirar fones ou se afastar do aparelho. Mas, no tempo permitido, a diversão está toda com ele: "Deu o sinal, a gente fica frenético. Junta a roda, quem tem crédito vai para o meio, a gente fica vendo meme direto. Tudo combinado: cada semana é um que cede os créditos. Se não tem, a gente fica brincando de esconde-esconde no Minecraft off-line".

No ensino médio, aos poucos foi acrescentando aplicativos mais sérios, alguns capazes de levar a pensar num futuro profissional. Coisas como um programa para lidar com calorias, que acendeu o desejo de estudar nutrição. Com ele vieram simulados para Etecs ou para o Enem, que precisa prestar neste ano.

Essa melhoria é resultado de uma luta diária dos professores. Daniela Cacure, professora de história, que o diga: "Nosso modelo de escola não está preparado para a tecnologia. Para seguir a lei nos tempos da proibição, a gente só tinha como instrumentos giz, lousa e saliva. Tínhamos de policiar os alunos para não usar fones durante as explicações, não entrar na rede. Era uma guerra diária." Os meios legais para atrair atenção eram limitados: "Como a rede da escola não é aberta para os alunos, só dá para pedir pesquisas no celular deles. Mas apenas uns poucos têm planos de dados, de modo que isso criava discriminação. Podia -mas muito de vez em quando".

Elcio Carlos Dantas, professor de biologia, é o encarregado pela sala. Organiza o cronograma para cada professor, prepara os computadores, busca programas didáticos para as matérias, monta banco de dados de experiências bem-sucedidas. Mas reconhece: "Na ausência de monitores que possam ajudar o professor no meio do movimento, fica tudo pouco produtivo".

A clara limitação dos meios oficiais foi fazendo com que, mesmo antes da aprovação da lei, os professores fossem se rendendo ao império do celular. Simone Capuano, professora de artes, começou a mudar de atitude com os alunos do ensino médio: "Propus a um grupo um trabalho sobre jingles. Eles gravaram alguns com os pais, acharam na rede. Criaram um jingle, gravaram no celular, editaram em casa, ficou ótimo. Comecei a perceber como empregar o aparelho para ensinar". Kátia Josefa, professora de inglês, foi mais longe: "Incentivo todos a baixarem um dicionário virtual para deixarem de lado o Google tradutor. É bem mais completo que o papel, traz som e o contexto. Permite ao aluno saber mais que o som de 'subway', por exemplo: ele vê o metrô, entra nos detalhes do contexto",diz. 

"Mas em classe tenho de ficar de olho o tempo todo, senão logo vira joguinho e rede. Além disso, era chato fazer isso quando tinha uma plaquinha na sala dizendo que o uso era proibido". Regiane Oliveira Santos, professora do ensino básico e de filosofia no médio, além de moradora do bairro, acabou encontrando uma solução de convívio, olhando mais para a realidade dos celulares do que para a leitura da placa: "Comecei com os mais velhos, arranjando jogos de lógica como caça-palavras ou sudoku e permitindo que eles jogassem em horários determinados, antes das redes sociais. Depois pedi para tocarem certas músicas para discutirmos as letras. Assim acabei com o negócio do proibido, o mal-estar da sala".

Fonte - http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2018/01/1949859-lei-que-permite-celular-em-aula-da-tregua-para-professores-e-alunos.shtml.  Acesso aos 13/01/2018.

 José Antônio dos Santos

Mestre pela UFSJ

Contato: [email protected]



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Escrito por Educação, no dia 08/02/2018




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