Crédito: Rafaela Melo
A Estalagem e Gameleira da Varginha fica às margens da MG-129, entre CL e Ouro Branco
No dia 21 de abril, data em que o país reverencia a memória de Tiradentes, um esforço silencioso para manter viva essa história segue sendo executado em Lafaiete. Um acordo firmado entre o Ministério Público, empresas, governo municipal e entidades civis busca devolver ao Sítio da Varginha do Lourenço parte da dignidade que o tempo e o abandono apagaram. Segundo a tradição oral e registros históricos, a centenária gameleira integra o sítio da Varginha do Lourenço, conjunto com tombamento estadual registrado em 1989 e que inclui, ainda, as ruínas da antiga Estalagem da Varginha e outras instalações.
Localizada às margens da via conhecida no período colonial como Caminho Novo, a Estalagem, em 1788 foi palco de encontros de alguns dos inconfidentes que planejavam a independência do Brasil, o que justificou a exposição - embaixo de uma gameleira - de parte do corpo do único inconfidente condenado a morte – Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes. Em 1950, a Estalagem foi demolida, restando apenas ruínas. Em 1989, foi erguido o monumento em pedra sabão em homenagem ao Bicentenário da Inconfidência Mineira.
Também em 1989, o sítio foi tombado pelo governo estadual, mas por décadas viu ruínas se desfazerem, vegetação nativa ser substituída por eucaliptos, e a histórica gameleira definhando. Em 2022, uma parceria firmada entre o Ministério Público de Minas Gerais, a Gerdau Açominas, a Prefeitura de Lafaiete, a Ordem dos Cavaleiros da Inconfidência Mineira e Agência de Desenvolvimento Econômico e Social dos Inconfidentes e Alto Paraopeba (Adesiap) deu início a um plano de revitalização que agora começa a se materializar.
Gameleira e sítio em risco - Símbolo do episódio mais brutal da repressão à Inconfidência, a gameleira passa por um processo de diagnóstico e reprodução assexuada. Técnicos especializados confirmaram o estado crítico da árvore original, mas conseguiram clonar mudas que serão plantadas no próprio sítio e em outros pontos do município. A Gerdau, responsável pelas ações iniciais, deve concluir essa etapa ainda este ano.
O relatório técnico da Adesiap aponta que a árvore, da espécie Ficus lagoensis, apresenta galhos secos e estrutura comprometida, exigindo cuidados emergenciais — já em execução — e monitoramento permanente que ficará a cargo da prefeitura. A situação foi conferida de perto pela nossa Reportagem, que esteve no local na terça-feira, dia 22. O que restou da estalagem do século XVIII são fragmentos de muros, fundações e estruturas ocultas pelo mato e pela escória industrial descartada na área ao longo dos anos.
Com base em estudos do Laboratório de Arqueologia da UFMG, o projeto aprovado prevê proteção dos vestígios, recomposição da vegetação nativa e a implantação de marcos georreferenciados. Conforme o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre as partes, toda intervenção será acompanhada por arqueólogos, e o acesso ao público será ampliado com trilhas interpretativas e visitas guiadas. Também está prevista a criação de uma plataforma digital que permitirá a visita virtual ao espaço, democratizando o acesso à história. Nota oficial reforça compromisso com a preservação.
Em atenção ao ofício do Jornal CORREIO, a Prefeitura nos enviou uma nota oficial. Segundo o secretário municipal de Cultura, Alex de Souza Gomes Junior, a revitalização já está efetivamente em curso, seguindo um planejamento técnico rigoroso e adequado às exigências legais e patrimoniais. “A atual gestão tem concentrado esforços, desde o início de seu mandato, para garantir a preservação e valorização do patrimônio histórico e cultural de nossa cidade, incluindo a Estalagem e a Gameleira da Varginha. As ações iniciais tiveram como foco imediato garantir sua proteção e assegurar que o conjunto histórico e paisagístico que a envolve seja plenamente valorizado e protegido”.
Lembrando o tombamento estadual da Estalagem e Gameleira da Varginha, Alex de Souza destacou a responsabilidade compartilhada entre o município e o Estado: “Este mês, uma equipe especializada do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) visitou o local. A Prefeitura esteve representada por nossa arquiteta responsável e gerente de Cultura municipal. E as perspectivas são extremamente positivas. Temos plena confiança de que, com o trabalho integrado entre Prefeitura, Estado e comunidade local, será possível devolver à população um espaço histórico revitalizado e valorizado, reafirmando nossa memória cultural e histórica”.
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Postado por Maria Teresa, no dia 10/05/2025 - 15:36