Fotos: Divulgação/ Arquivo Jornal CORREIO
Com déficit de 70% da força de trabalho necessária, oito das dez funções principais do setor apresentam dificuldades para preenchimento de vagas
O Brasil atravessa um cenário paradoxal no mercado de trabalho: enquanto o desemprego atingiu sua menor média histórica, fechando 2024 em 6,6%, setores essenciais, como o de supermercados, enfrentam uma crise de escassez de trabalhadores. De acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), oito das dez funções principais do setor apresentam dificuldades para preenchimento de vagas, resultando em um déficit de 70% da força de trabalho necessária. As razões para essa falta de mão de obra são multifacetadas. Além do crescimento do empreendedorismo jovem e do aumento do trabalho informal, há uma resistência crescente ao modelo tradicional de expediente fixo e presencial, sobretudo em setores que exigem disponibilidade aos finais de semana e feriados.
O impacto desse fenômeno é visível nos supermercados de Lafaiete, onde empresários relatam dificuldades crescentes para contratar funcionários em funções operacionais. "Estamos com dificuldades em contratar colaboradores para todos os cargos, especialmente os que exigem um pouco mais de qualificação", afirma Marcos Rezende de Azevedo, diretor do Supermercado Azevedo.
Alta rotatividade
Outro desafio apontado pelos empresários é a alta rotatividade dos funcionários. Muitos jovens enxergam o setor supermercadista como um trampolim para outras carreiras, deixando os empregos após curtos períodos. Bento José Oliveira, diretor do Supermercado J. Oliveira, explica que essa realidade já foi mais acentuada, mas ainda afeta o setor: "Quando é necessário contratar, percebemos, muitas vezes, a falta de conhecimento até mesmo em funções básicas do comércio, como atendimento ao cliente".
Bento José Oliveira explica que essa realidade já foi mais acentuada, mas ainda afeta o setor
A psicóloga Janine Chequer, que atua no setor de gestão de pessoas do Supermercado Brasil, destaca que a rotatividade é natural para o segmento: "O varejo supermercadista é conhecido por contar com muitas posições operacionais que tradicionalmente possuem maior movimentação no mercado de trabalho. Muitos entram no supermercado como primeiro emprego e, após adquirirem experiência, migram para outros setores".
A psicóloga Janine Chequer aponta que a rotatividade é natural para o segmento
Busca por soluções
Para mitigar os impactos da escassez de trabalhadores, as empresas supermercadistas de Lafaiete têm adotado estratégias diferenciadas. A oferta de benefícios como plano odontológico, cashback mensal por assiduidade e parcerias com universidades são algumas das apostas da rede Supermercado Brasil para atrair candidatos, por exemplo: “Nossas principais iniciativas incluem, ainda, treinamentos técnicos in loco e os descontos em empresas parceiras através do nosso Programa Brasil de Vantagens”, acrescentam Janine Chequer e Júlia Lana. No entanto, a flexibilidade do horário ainda se mostra um obstáculo difícil de transpor.
Júlia Lana explica que o funcionamento estendido pode ser um fator de desistência para alguns profissionais
“O funcionamento estendido, incluindo finais de semana e feriados, pode ser um fator de desistência para alguns profissionais", explica Júlia Lana, auxiliar do departamento pessoal do Supermercado Brasil. A busca por soluções tecnológicas para reduzir a dependência de mão de obra também se intensificou. O Supermercado Brasil, por exemplo, já implementou o sistema de self-checkout para otimizar filas e reduzir a demanda por operadores de caixa. Porém, em redes menores, a automação ainda esbarra nos altos custos de implementação. A situação é tão desafiadora que algumas empresas cogitam mudanças drásticas. "Ainda não reduzimos o horário de funcionamento, mas se a situação não mudar, teremos que avaliar", admite Marcos Rezende de Azevedo.
A face social do problema
Para além dos desafios internos do setor, empresários também questionam o impacto das políticas sociais na escassez de trabalhadores. "Creio que a principal causa pela falta de mão de obra é o excesso de benefícios sociais dados pelo governo. Eles são importantes, mas deveriam atender somente a quem realmente precisa. Não é o que estamos assistindo. Muitas pessoas estão preferindo prestar serviços pontualmente, sem carteira assinada, para não perderem o acesso aos programas sociais. E, no final, todos saem prejudicados. Os empresários, que não conseguem desenvolver seus negócios, e os próprios beneficiários. Afinal, lá na frente, quando precisarem se aposentar, como será?", conclui Marcos Rezende Azevedo.
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Postado por Maria Teresa, no dia 19/04/2025 - 08:30