Ator Amaury Lorenzo retorna à encenação da Paixão de Cristo pela terceira vez em Congonhas e destaca o papel transformador da fé

Congonhense de nascimento, ele fala sobre espiritualidade, memória afetiva e a força simbólica da tradição mineira durante coletiva de imprensa.

Fotos: Prefeitura de Congonhas/Daniel Silva

Lorenzo emocionou o público ao relatar como sua interpretação transcende a atuação e se transforma em experiência de fé.

O ator Amaury Lorenzo, conhecido nacionalmente por seus papéis em novelas da TV Globo, retorna pelo terceiro ano consecutivo ao papel de Jesus Cristo na tradicional encenação da Paixão de Cristo em Congonhas, na Região Central de Minas Gerais. Durante coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (16), no Museu de Congonhas, Lorenzo emocionou o público ao relatar como sua interpretação transcende a atuação e se transforma em experiência de fé.

As apresentações fazem parte da programação da Semana Santa, realizada em frente à Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, Patrimônio Mundial da Humanidade. O evento é um dos mais emblemáticos da cultura religiosa mineira e atrai milhares de fiéis e turistas todos os anos. Ao lado dos diretores Zezeca e Patrícia Vidal, Amaury compartilhou memórias da infância em Congonhas e refletiu sobre arte, espiritualidade e compromisso social. “Nasci no Hospital Bom Jesus. Cresci participando de procissões, carregando imagens, vivendo essa religiosidade desde sempre. Meu laboratório foi minha própria história”, disse o ator. Segundo ele, a força simbólica do espetáculo é tão grande que “a técnica fica pequena diante da emoção do público”.

"Cristo é um arrebatamento"

Lorenzo afirmou que o papel exige mais do que interpretação. “Quando levantam a cruz e vejo aquele mar de gente chorando, rezando... não é mais atuação. A fé toma conta. Cristo é um arrebatamento”, declarou. Em um dos relatos mais tocantes, ele lembrou o momento em que soltou uma pomba na cena da ressurreição: “Ela voou em direção ao sol e depois pousou na cabeça de um dos profetas. Foi mágico. A própria fé se manifesta aqui.” Além do teatro sacro, Amaury também se prepara para viver o escultor Aleijadinho em um novo projeto teatral. “Ele era movido por paixão, e eu também. Pela vida, pela arte, pela minha cidade”, disse. O artista destacou ainda a importância da educação e da cultura na transformação social. “Se não fosse o Zezeca, eu não seria o ator que sou. Tudo começou ali, no pátio do Lamartine. Investir em arte é investir em gente.”

Cristo no presente

Em tom político, Lorenzo refletiu sobre a atualidade da figura de Cristo. “Tem gente que está pregada na cruz todos os dias. Mulheres, indígenas, negros, LGBTQIA+… São Cristos que lutam por dignidade em um mundo que ainda crucifica quem é diferente.” Ele recordou uma visita a comunidades indígenas na Amazônia, onde ouviu relatos de violência brutal. “Havia um Cristo naquele líder que perdeu o tio assassinado por defender seu povo. O Cristo está vivo em todos os que resistem.”

Encenações e valorização da fé em Minas

Amaury interpreta Jesus nas apresentações desta sexta-feira (18), na encenação da Paixão e Morte de Cristo, e no domingo de Páscoa (20), na celebração da Ressurreição. Ambas acontecem em frente à Basílica. A Semana Santa de Congonhas se fortalece a cada ano como símbolo da fé popular mineira e da valorização da cultura local. “A fé já está aqui. Os artistas estão aqui. O povo está aqui. Só falta a gente juntar forças”, concluiu o ator.

Coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (16), no Museu de Congonhas