Fotos: José Geraldo
Siga de Minas pela estrada MG 482, que leva de Conselheiro Lafaiete a Viçosa. Ao chegar em Piranga, atravesse esta cidade colonial e siga em direção às montanhas de Mariana. Desça até o distrito de Santo Antônio do Pirapitinga (popularmente conhecido como Bacalhau, a 12 km de distância). Visite o Santuário do Bom Jesus de Matozinhos para participar do 238º Jubileu, que ocorre entre 1 e 15 de agosto.
Mito, lenda e histórias
O Santuário do Bom Jesus do Bacalhau é uma das mais belas igrejas de Minas Gerais. Segundo o professor Ângelo Osvaldo de A. Santos, renomada autoridade em patrimônio cultural e atual prefeito de Ouro Preto, o santuário é frequentemente elogiado em suas prosas e louvores. De acordo com a pesquisadora Selma Miranda, do IEPHA (Revista Barroco, BH, 1998), a construção religiosa é um exemplar típico do Alto Vale do Piranga. No interior da igreja, as pinturas de Mestre Athayde e as imagens dos mestres oitocentistas, como o santeiro Mestre Piranga, encantam os visitantes apaixonados pela arte sacra tricentenária.
Mestre Manuel da Costa Athayde residiu no arraial do Bacalhau, e seu pai e irmãos contribuíram na construção do Santuário. Tanto o templo quanto as edificações da Romaria anexa são tombados a nível federal pelo IPHAN. A Romaria é uma das poucas construções que ainda abriga romeiros. Durante os ritos do Jubileu, os devotos se hospedam temporariamente e se revezam no auxílio voluntário às celebrações. Segundo o Reitor do Santuário, padre Vitor Campos, esta tricentenária celebração de fé está em processo de ser protegida como Registro do Patrimônio Imaterial da comunidade.
A origem do lugar remonta ao início do século XVIII, e o nome é uma homenagem a José Bacalhau, o primeiro e rico habitante, a quem a lenda atribui a criação do primeiro entreposto comercial das Minas do Ouro. A lenda diz que o Santuário, construído em 1786, no local atual, foi erguido devido ao fato de uma imagem do Senhor Bom Jesus de Matozinhos, inicialmente colocada na capela do Rosário (já demolida) e depois na Igreja de Santo Antônio, retornar repetidamente ao topo do morro, levando à construção do Santuário. A fé e tradição católica, semelhantes às de Congonhas, têm suas raízes em Matozinhos (Portugal), uma lenda lusa milenar.
Outra lenda associada ao Santuário do Bom Jesus do Bacalhau é que ele teria sido construído em honra das almas perdidas na feroz batalha dos Emboabas, que ocorreu nas proximidades da Fazenda da Cotia, a 3 km do Arraial do Bacalhau. Um monumento com espadas alusivas à época da batalha saúda o romeiro ao chegar ao topo da ladeira.
O distrito do Bacalhau, com seus 500 habitantes, mantém o charme e os registros de sua história antiga, visíveis nas casas e nas igrejas do Bom Jesus e de Santo Antônio. Durante o Jubileu e a romaria, a estrada de terra Piranga/Bacalhau revive o movimento frenético do período do ouro, com centenas de cavaleiros, ciclistas e caminhantes dirigindo-se ao Bacalhau.
É possível se hospedar no Bacalhau. Com prévia reserva, Juninho do Bacalhau e sua esposa Du Carmo estão começando a oferecer hospedagem rural em seu sítio nas imediações do arraial. Partindo daí, siga em direção a Mariana (35 km) e passe pelo distrito piranguense de Pinheiros Altos, que, no alvorecer da era dourada, foi cogitado para ser a primeira capital das Minas Gerais. Explore Minas para conhecer esta versão rural inédita e esquecida nas montanhas, repleta de fé e história.
Mais informações:
Secretaria do Santuário (31) 99531 2780
Cultura de Piranga: Thiago Vitor - (31) 3746 1251
Pousada do Juninho (sob reserva): (31) 99734 9428
José Geraldo é agente cultural e pesquisador das histórias e encantos do Alto Vale do Piranga. Reportagem especial para o Jornal CORREIO no 238º Jubileu do Bacalhau.
Distrito de Santo Antônio do Pirapetinga - Bacalhau, distrito de Piranga
Uma tradição centenária, com origem portuguesa em Matozinhos, como a de Congonhas
Peregrinos vão pedir bençãos ou agradecer milagres, na sala dos e ex-votos
Um santuário de fé, de arte dos mineiros do ouro
Na ladeira, monumento a batalha da Guerra dos Emboabas
Dona Rosária, moradora de Piranga, vem com a família há mais de 20 anos."Arrancha na Romaría" numa tradição também centenária do Bacalhau
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Postado por Rafaela Melo, no dia 24/08/2024 - 09:45