Fotos: Rafaela Melo leitor
Aposentado Mário de Paula, 73 anos, mostra a quantidade de remédios que precisa tomar durante o mês
Com o envelhecimento da população e o avanço da tecnologia, o brasileiro tem comprometido uma parcela cada vez maior do seu salário com a saúde. É o que mostra a os dados da Conta-Satélite de Saúde do IBGE, pesquisa que mede despesas do país com o setor, cujos dados foram divulgados em abril. Entre 2010 e 2021, as famílias gastaram mais com remédios e exames – especialmente nos últimos dois anos. Os gastos delas foram, inclusive, superiores ao do próprio governo, que manteve suas despesas relativamente estáveis no mesmo período.
O maior dispêndio fez a participação do setor de saúde saltar de 8% do PIB (Produto Interno Bruto), em 2010, para 9,7% do indicador, em 2021. Segundo analisa o IBGE, o envelhecimento da população brasileira e o avanço das tecnologias, com exames de alta complexidade, são fatores que têm levado a uma tendência de gasto crescente no setor da saúde. Como reflexo, o setor também empregou mais: as atividades relacionadas à saúde representavam 5,3% das ocupações em 2010 (ou 5,2 milhões) e passaram para 8% em 2021 (equivalente a 8,4 milhões de postos) – basta observar a multiplicação de farmácias e clínicas pela cidade para entender.
Família x governo
Segundo a pesquisa, famílias gastam com planos de saúde, compra de medicamentos, consultas particulares, realização de exames e internações. Já as despesas do governo incluem os serviços de hospitais e unidades públicas de saúde, além de serviços adquiridos do setor privado. Os gastos das famílias com serviços privados de saúde perderam espaço para o gasto com medicamentos, que aumentou nos últimos anos.
Apesar de gastos com saúde afetarem todas as faixas etárias, adultos e, em especial, idosos, são aqueles que mais comumente sentem no bolso o impacto dessa realidade. Após dedicarem uma vida inteira ao trabalho, muitos chegam à velhice mais debilitados, em função da idade e de doenças que adquiriram ao longo dos anos. E se antes faltava tempo para aproveitar a vida, agora, é o dinheiro que impacta de forma mais dura e limita a realização dos sonhos. Em Lafaiete, por exemplo, pessoas com 65 anos ou mais representam 12,15% da população. São 15.987 pessoas, segundo o Censo 2022.
Cortando gastos e sonhos
Aos 62 anos, a professora aposentada Elizabeth Lima Reis Vieira sente no bolso o impacto desses custos. Moradores do bairro Cachoeira, ela e o marido calculam gastar cerca de 60% de tudo o que ganham para custear remédios e tratamentos: “Meu marido é diabético e, em função disso, tem uma neuropatia. Então, além de medicamentos, precisa de fisioterapia. Já eu tenho artrite reumatoide; uma doença crônica que também demanda vários medicamentos”.
Para tentar reduzir os custos, eles buscam na Farmácia Popular a medicação que está disponível, o que, segundo avalia Elizabeth, não chega a aliviar o bolso: “Dois medicamentos prescritos para o meu marido são gratuitos, mas eles são os mais baratinhos. Os de alto custo, para diabetes, saem do nosso bolso mesmo; não conseguimos pela Farmácia Popular. Alguns dos medicamentos até podem ter desconto, mas, para isso, é preciso ter mais de 65 anos, o que não se aplica a nós. E ainda há casos que nem os genéricos são permitidos pelos médicos”, acrescenta.
Para dar continuidade aos tratamentos e não ficar no vermelho, o caminho tem sido abrir mão de muito daquilo que sonharam: “Começamos a trabalhar muito cedo, e na idade que estamos, merecíamos mais qualidade de vida; deveríamos poder investir em lazer, viajar às vezes, mas não tem sido possível. E isso impacta tanto na nossa saúde física, como mental e emocional”, lamenta.
Para o aposentado Mário de Paula, 73 anos, até mesmo o mais essencial lhe foi tirado: “Até dezembro, eu passava fome e não tinha condições nem para comprar os remédios de pressão e tireoide. Também sofro de dores crônicas e espero, há 4 anos, por uma cirurgia de quadril que nunca é aprovada. A maior parte do meu salário é gasta com remédios. Como muitos aposentados, tenho empréstimos consignados e os R$700 que me sobram não são suficientes. O gasto era alto e o INSS não ajuda a gente em parte nenhuma, assim como a prefeitura”, lamenta. Para viver, ele recorreu à ajuda da família: “Uma filha compra o remédio e meus irmãos me dão a cesta básica, porque nem isso eu podia comprar. Penso que nos falta um suporte melhor da prefeitura e do setor público, de forma geral”, observa.
Farmácia Popular
Pacientes com diabetes, asma, hipertensão e osteoporose podem ter acesso a medicamentos gratuitos para essas doenças por meio do programa Farmácia Popular, do Governo Federal, que oferece, também, anticoncepcional e absorventes de graça, além de medicamentos com custo reduzido para tratamento de rinite, doença de Parkinson, glaucoma, incontinência (fraldas geriátricas), diabetes associadas à doença cardiovascular e dislipidemia (gordura no sangue). Nesses casos, o Ministério da Saúde paga parte do valor dos medicamentos (até 90% do preço de referência tabelado) e o cidadão arca com o restante, de acordo com o valor praticado pela farmácia. Ao todo, o programa contempla 40 fármacos (confira a lista no link: https://agenciagov.ebc.com.br/noticias/202402/saiba-como-obter-medicamentos-gratuitos-pelo-programa-farmacia-popular)
Como obter os medicamentos
Para isso, o paciente deve comparecer a um estabelecimento credenciado, identificado pela logomarca do programa, e apresentar documento oficial com foto e número do CPF ou documento de identidade em que conste o número do CPF. Também é necessário apresentar a receita médica dentro do prazo de validade, tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto de serviços particulares. Desde 2023, beneficiários do Bolsa Família passaram a retirar os 40 medicamentos disponíveis no programa gratuitamente.
Para o aposentado Mário de Paula, 73 anos, até mesmo o mais essencial lhe foi tirado
A professora aposentada Elizabeth Lima Reis Vieira sente no bolso o impacto desses custos
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Postado por Rafaela Melo, no dia 26/05/2024 - 18:30