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Comunidade


Pesquisa revela o drama social e a invisibilidade dos garis de CL

Estudo, realizado pelo psicólogo Alex Rezende, expõe uma importante realidade: “É preciso valorizar esses profissionais”




O Gari Maxwel revela: “Não tenho sonhos e nem planos. Com 53 anos, o que gostaria mesmo é de receber mais respeito. E assim vou seguindo minha vida”

 

O enfrentamento do problema de limpeza urbana e da destinação do lixo passa por várias esferas da sociedade. Além das ações do poder público, de empresas do setor e da sociedade em geral, instituições com as faculdades têm voltado suas atenções para o tema. Em Lafaiete, o professor Alex Rezende, que atua no curso de Psicologia da Unipac/Lafaiete, vem realizando, desde 2023, uma interessante pesquisa sobre a atuação dos garis.

De acordo com o docente e psicólogo, o interesse pelo assunto surgiu através da disciplina Psicologia do Trabalho e de atividades de estágio: “Nas atividades, os alunos citaram diversas profissões, mas nenhum dos trabalhos incluiu a profissão de gari. Assim, surgiu a ideia de aprofundar os conhecimentos sobre essa profissão, caracterizada por ser invisível socialmente”, relatou. Na pesquisa, viabilizada através do Programa de Iniciação Científica (Probic/Unipac), Alex resgatou vivências dos garis e espera levar à comunidade acadêmica e à sociedade mais informações sobre essa atividade: “O estudo, que já está em fase de conclusão e tem a participação da aluna-bolsista Isabella Melillo Moreira, envolveu a consulta a artigos científicos e também entrevistamos seis garis, que atuam na coleta de lixo de Lafaiete. A atividade requer esforços e está marcada por movimentos repetitivos, percursos extensos e desafiadores e carga horária de 8 horas diárias. Os garis são muito cobrados, por toda a população, mas não recebem a contrapartida, o reconhecimento por sua importante função”, pondera.

Mas, engana-se quem pensa que os relatos dos garis foram apenas de lamento: “Os entrevistados citaram alguns pontos positivos da profissão, como o trabalho ao ar livre, a possibilidade de encontrar lugares e pessoas novas e maior liberdade de movimentos, interações e alternativas. A estabilidade do emprego apareceu como um outro aspecto positivo”, enumerou. Segundo Alex, para muitos desses trabalhadores, a profissão de gari é a porta de entrada no mercado formal de trabalho. O respeito, acolhimento e empatia, manifestam pelos cidadãos, também foram citados pelos coletores de lixo. Quanto aos desafios, os garis reclamaram da estigmatização, que acontece muitas vezes: “In­feliz­mente, em muitas sociedades, o trabalho de coleta de lixo e limpeza de ruas é frequentemente subestimado e associado à ideia de que se trata de um trabalho sujo, de baixa importância, e que aqueles que o realizam são socialmente inferiores. Entretan­to, diante da complexidade e das exigências físicas e mentais do trabalho, o gari elabora modos operatórios, buscando a manutenção de sua saúde física e mental”, avalia. Dian­te da pesquisa, o professor e psicólogo acredita que o trabalho dos garis deveria ser mais valorizado: “A so­cie­­dade precisa dessa atividade, e os garis estão expostos a diversos riscos de acidentes e ameaças de natureza biológica e química, entre outras. É muito co­mum esses profissionais apresentarem, ao longo do tempo, lesões osteomusculares, como lombalgias, epicondilite, esporão de calcâneo e hérnia de disco. Também estão expostos aos ruídos, radiação solar e atropelamentos”, cita. Ao abordar a questão da invisibilidade social, Alex Rezende resgata, através dos garis, a necessidade da sociedade olhar com mais atenção para questões como a do lixo: “Os garis são um grande exemplo de invisibilidade social, pois passam despercebidos nas ruas; eles são lembrados apenas quan­do não trabalham, pois o lixo se espalha pelas ruas e a sociedade então cobra sua presença. São profissionais que lutam por respeito e visibilidade. A profissão é cansativa, desafiadora e resiliente, e merece um olhar mais sensível por parte da população”, finaliza.

Maxwel da Silva fala sobre sua rotina de gari

Respeito. Essa é a palavra que resume o depoimento de Maxwel da Silva, de 53 anos, que há 6 trabalha como gari coletor. Respeito por seu trabalho, pelo meio ambiente e pela sociedade, que necessita de espaços limpos para se manter em ordem. Mas, além de oferecer respeito, Maxwel também pede: “São muitos desafios nessa profissão, mas, para mim, o principal deles é a falta de respeito, que muitas vezes eu percebo. Muita gente não nos vê como um funcionário público, que também tem direitos, além de deveres”, ressalta.

Orgulhoso de sua função, Maxwel tem consciência da importância de seu papel na comunidade: “Prestamos um grande serviço na cidade. Se o lixo não é recolhido, aí, sim, lembram que a gente existe. No restante do tempo, não somos valorizados”, lamenta. O gari admite; não é uma profissão para qualquer um: “Trabalhamos de sol a sol, recolhemos qualquer tipo de lixo e é muito sofrido. Já passei por muita coisa, mas estou aqui, de pé, firme”.

Embora cite os perigos físicos, o trabalho sob o sol forte e a chuva, e até as dificuldades do trânsito, Maxwel considera que o maior desafio da coleta de lixo é a falta de educação e empatia, por parte das pessoas: “Dói essa realidade de sermos invisíveis. Mas é o meu ofício. Sou feliz no que eu faço. O respeito não é apenas nas palavras, mas também nos gestos, como embalar adequadamente os cacos de vidro, não colocar resíduos inadequados para recolhermos, até mesmo ter discernimento na hora de dispensar sacos com peso excessivo. Tudo isso dificulta nosso trabalho e nos coloca em risco. É preciso refletir melhor; afinal, são seres humanos que transportam o lixo”, enfatiza.




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Postado por Rafaela Melo, no dia 13/04/2024 - 12:30


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