Foto: José Geraldo Dutra
Uma festa nacional, o carnaval brasileiro surgiu nos princípios dos anos 1600, no Rio de janeiro, através do entrudo católico, como celebração da entrada da Quaresma. Na época, aos escravos era permitido o “feriado”. Eles saíam pelas ruas da capital carioca jogando farinhas e bolinhas de água de cheiro, algumas malcheirosas, no povo, que às vezes caía na folia ou na pancadaria. A música vem depois, a princípio imitando os salões da nobreza de Veneza, nos bailes da elite. Depois os moradores da periferia tratou de driblar a polícia e sua repressão ao entrudo.
Mas a celebração da Quaresma católica tem raízes no Egito antigo, nas eras de sol da humanidade. Celebrava-se a entrada sim, da primavera, com os rituais pagãos que vão se verificar depois na Grécia (trazidos por Alexandre da Macedônia, o grande), Veneza, Espanha, o entrudo de Portugal. Carrum navalis ou carnem levare? O ancestral carro alegórico dos romanos, o carro naval, tinha forma de navio, onde embarcavam para desfilar na polis, homens e mulheres nus.
Nossa tradição católica romana voltou a suas origens pagãs? Certamente. No Brasil afro-ameríndio, do sul ao amazonas. O Boi, que depois do reisado cai na folia, o Frevo, o Maracatu, o Baião, o Xote, o Lundu...ritmos que se juntam às rodas de samba e da capoeira carioca e vão criando filiais paulistas e mineiras do brincar de nossa festa patrimônio cultural brasileiro. O Zé Pereira subiu litoral, pegou a estrada Real e atalhou por Ouro Preto comandando os blocos, cordões e foliões. Bandas de músicas das procissões sacras, saíram para a rua levando sopros, caixas e ritmos profanos. Fanfarras criaram escolas, de samba no pé e alegria na alma.
Como toda manifestação católica jesuíta, a festa Momesca nasce da agenda da eucarístia e ganha a liberdade e as cores, danças e folguedos das ruas. Na nação mineira, que nasce com o ouro das Gerais, ele é rico. Patrimônio Cultural também de Conselheiro Lafaiete e antigos distritos da redondeza. Segundo o produtor cultural queluziano, Ricardo Aleixo, mais conhecido como Bijinho, como evolução dos blocos e folias de outrora, (nos anos sessenta em diante, até anos 1980), a Escola de samba de Conselheiro Lafaiete, por sua organização e brilho, faziam do carnaval de Queluz de Minas um dos melhores de todo interior mineiro.
Escola de Samba Real de Queluz, 1980
Foto: Ricardo Aleixo
O Bando da Lua mandava os trapalhões para a praça,com muito charme e começavam a aparecer os blocos irreverentes,como o Bloco "A Ôio ",que influenciou e abriu novo espaço para a folia em Lafaiete.A folia de rua, veio se alastrando para os blocos Burrinho na Sombra,Tira o Óculos,bloco do Pijama,bloco do Boi,Zunidos do Cemitério,bloco de Mé,Pão Moiado,entre muitos outros,que faziam do Carnaval lafaietense um dos melhores de Minas Gerais,no sentido da folia.
Em Queluzito, a colorida brincadeira fica por conta dos blocos Cocotas na Cabeça, Largados e Vira. O Cocotas foi iniciativa de um grupo de amigos queluzitenses residentes e ausentes. Hoje, o bloco que resgatou o carnaval de Queluzito, há 20 anos puxa a animação de centenas de foliões, que vão para a cidade se divertir. Segundo sua presidente Claudinha Gualberto, o bloco começou de forma prosaica em 2004, batendo latas pela cidade e com camisas pintadas à mão pela artista Cidinha Dutra.
Bloco Cocotas na Cabeça, Queluzito
Fotos: Gisélia Mota
Em Piranga, registra-se desde 1918 os blocos, encabeçados pelos times do futebol local: Piranga e Nacional. É garantia de riqueza e animação. Um dos maiores carnavais da região, alí o Zé Pereira desceu de Ouro Preto e fez morada também. Visitou Zé Pereira Santana dos Montes nos anos 1990, no resgate da tradição que hoje é registro de Patrimônio Cultural Imaterial por seus blocos e sua história desde 1905.
Carnaval de Piranga
Foto: Patricio Carneiro
Sobreviverá nossa rica tradição regional do carnaval ao funk e ao sertanejo universitário? Não se trata de reprimir ritmos e gostos numa festa popular, para/ e de todos. E não obstante, as mudanças de costumes e ritmos serem inevitáveis não é o carnaval uma cultura, uma tradição, uma celebração que remonta aos séculos? Com a palavra os senhores agentes de cultura públicos e privados. Patrimônio Cultural de um povo é o registro de suas raízes. Não é só entretenimento.
O autor deste texto, solicitou informações sobre o Carnaval em outras cidades também, mas não obteve informações.
Por José Geraldo
Agente cultural em Santana dos Montes e pesquisador das histórias e encantos da antiga Queluz de Minas
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Postado por Rafaela Melo, no dia 10/02/2024 - 15:30