A pandemia agravou desigualdades, impactou negativamente no crescimento e provocou desemprego em vários setores, mas talvez tenha sido para os mais vulneráveis que essa tragédia histórica tenha mostrado face mais sombria. No Brasil, a população de rua superou as 281 mil pessoas em 2022. Isso representa um aumento de 38% desde 2019, conforme concluiu um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Lafaiete espelha essa realidade, mas talvez em proporções ainda mais preocupantes.
Responsável pelo acompanhamento desse quadro, o Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua – Centro POP/CL também sentiu um aumento no número de pessoas em situação de rua atendidas diariamente por sua equipe. “Entre janeiro e junho de 2023, foram realizados 313 novos cadastros no setor. Se comparado ao mesmo período de 2022, tivemos um aumento de 67%. Também observamos esse aumento por meio do Serviço de Abordagem Social. Apenas no mês de maio de 2023, foram realizados 23 novos cadastros. Em maio de 2022 foram 10”, detalha a coordenadora do Centro Pop, a assistente social Kênia Fernanda Santos.
O quadro já vinha chamando a atenção da nossa equipe, que em dezembro passado abordou o drama das 34 pessoas que passaram o Natal nas frias ruas da cidade. Mas agora, em pleno inverno, a situação é ainda mais preocupante e aponta para um aumento de 175% na população de rua da cidade. “O Serviço de Abordagem Social e o Centro POP/CL buscam realizar o mapeamento das pessoas em situação de rua no município conforme os meios disponíveis. Estamos em processo de atualização, mas conforme o último mapeamento realizado em ampla extensão do território, identificamos 93 pessoas”, revela Kênia Fernanda Santos.
Pelo mapeamento realizado pelo setor, 86% são homens, com idade entre 18 e 59 anos. Ainda segundo a assistente social, devido à inexistência de moradia convencional regular por diversos fatores, as pessoas em situação de rua utilizam os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e/ou de sustento, concentrando-se em áreas centrais como rodoviária e praças.
Nossa equipe percorreu alguns pontos da cidade e registrou parte dessa realidade. Só no terminal rodoviário, próximo aos banheiros, há, pelo menos, quatro abrigos improvisados. Em um deles há, apenas, colchões e cobertores. Em outros, uma barraca ou ‘cabana’, feita de papelão, cobertores e plásticos. No Carijós, nos fundos do Mercado do Produtor, há outra barraca e mais a frente, no Centro de Controle de Castração, tem uma espécie de cabana feita com plásticos. Na parte de baixo do coreto, uma pessoa se abriga no pequeno espaço entre as partes de concreto e as grades. Há cobertores e papelões no local.
Embaixo da marquise de um restaurante, na avenida Prefeito Telésforo Cândido de Resende, também há cobertores, papelões e roupas.
Morte na rua
Essa realidade é dura para quem enfrenta dias e noites nas ruas de qualquer cidade. Em um ambiente hostil, a bebida e as drogas surgem como uma espécie de refúgio da realidade e, aos poucos, a saúde torna-se cada vez mais frágil. No bairro Progresso, em Lafaiete, um homem foi encontrado sem vida. Segundo Kênia Santos, a vítima dispunha de endereço fixo e residia com um conhecido, mas possuía trajetória de rua, chegando a ser acompanhado pela equipe do Centro POP, com orientações e intervenções, referente a sua saúde debilitada.
A unidade tem portas abertas de segunda a sexta, das 8h às 16h, disponibilizando atendimento humanizado às pessoas em situação de vulnerabilidade social que utilizam as ruas como meio de moradia e sustento. “Oferecemos alimentação, higienização pessoal, doação e lavagem de roupas e atendimento técnico com assistente social e psicólogo. O Centro POP também vem realizando parcerias com a comunidade, que através de campanhas tem arrecadado doações de cobertores e roupas de frio. Entregamos todo esse material aos usuários que frequentam o setor e durante a abordagem social”.
Mas a proposta é ir além: “Desde o ano passado, estamos realizando articulações entre os setores públicos e sociedade civil, que atendem e oferecem serviços às pessoas em situação de rua, para discutirem sobre o tema, se capacitarem e desenvolverem um Plano Municipal de Atendimento a Pessoa em Situação de Rua”, finaliza.
Centro de Referência para População em Situação de Rua – Centro POP/CL
Endereço: avenida Prefeito Telésforo Cândido de Rezende, 87, Centro
Telefone: (31) 9 9239-6560
E-mail: [email protected]
Só no terminal rodoviário, há, pelo menos, quatro abrigos improvisados
No Carijós, nos fundos do Mercado do Produtor, há outra barraca e perto do Centro de Controle de Castração, pode-se ver mais uma espécie de cabana feita com plásticos
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Postado por Nathália Coelho, no dia 06/07/2023 - 21:20