Pelo menos 46 pessoas desapareceram em Lafaiete durante o ano de 2022. O número é 15% maior que o registrado em 2021. Só de janeiro a março deste ano, outras oito pessoas deixaram o convívio da família sem dar notícias. Os dados são do Observatório de Segurança Pública/Reds/Sejusp MG e mostram, também, que muitas dessas histórias tiveram um final feliz. Só no primeiro trimestre deste ano, 12 pessoas foram localizadas (quatro a mais que as desaparecidas nesse mesmo período). Em 2022, o número chegou a 20, e em 2021, a 32. É importante também lembrar que nem sempre o desaparecido é encontrado ou aparece como localizado no mesmo mês do desaparecimento. Uma pessoa pode desaparecer, por exemplo, em um ano e ser localizada em outro ano.
Mas o que chama atenção e, muitas vezes, ajuda a desvendar os casos, é a análise do perfil dessas vítimas. Delegada de Polícia da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida em Belo Horizonte, Bianca Landau e sua equipe também dão suporte à investigação de casos ocorridos na região metropolitana e no interior. Ela explica que o desaparecimento é fenômeno de multifacetado e que tem múltiplas motivações. E que essas motivações variam a depender da faixa etária e gênero das pessoas. “No caso de crianças desaparecidas, a gente observa muito casos de confronto familiar, brigas dentro de casa e até aliciamentos, que hoje ocorrem, inclusive, pela internet. Gosto de alertar muito aos pais para que acompanhem com quem as crianças têm conversado”, observa.
Muitos casos de adolescentes meninas também passam por conflitos familiares - principalmente, em casos em que a jovem quer namorar e os pais não concordam. “Já os meninos adolescentes, infelizmente, costumam desaparecer por conta de envolvimento com a criminalidade. Podem sair voluntariamente, por estarem sofrendo algum tipo de ameaça, ou involuntariamente, como vítimas de um ato criminoso”, explica. No caso de adultos, os motivos são bem variados: “Costumam sair voluntariamente, ou seja, a pessoa opta por ausentar do convívio dos seus, ou involuntariamente, quando a pessoa foi vítima de algum crime, como sequestro, cárcere privado, casos de violência doméstica”.
Entre os idosos, são comuns casos de desaparecimento de pessoas com sofrimento mental, ou até mesmo pessoas que passaram mal na rua e estavam sem identificação. “Nós temos aqui um núcleo de assistência social. Quando vamos fazer uma busca por desaparecidos, dependendo do perfil, a gente checa a rede de assistência social da cidade, porque às vezes a pessoa se acidentou e foi socorrida. Conseguimos encontrar muitas pessoas assim”, acrescenta.
O mito das 24h
Quando alguém desaparece, cada minuto pode fazer a diferença no sucesso da busca. Exatamente por isso, a crença de que é preciso esperar 24h ou até 48h para registrar o desaparecimento de alguém acaba se tornando um dificultador nesse processo, como alerta a delegada: “A gente sempre recomenda aos familiares que deem notícia para a polícia assim que perceberem uma mudança na rotina dessa pessoa. Por exemplo: ela tinha que estar às 15h em determinado local, mas não chegou, não atende telefone, não foi mais vista, não dá notícia... Então, a família já está autorizada a procurar a polícia. Essa história de que tem que esperar um prazo de 24h ou 48h é um mito. Pelo contrário: quanto antes as providências puderem serem tomadas, maiores as chances de localização, porque a gente consegue entrar em contato mais rapidamente com quem viu o ausente pela última vez. Quanto mais o tempo vai passando, mais as informações vão ficando escassas”, pontua a dra. Bianca Landau.
Registrado o desaparecimento, a Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida realiza, com a autorização da família, a confecção e divulgação oficial de um cartaz nas mídias sociais da Polícia Civil. “Pedimos aos familiares para que seja desta forma, porque no afã de encontrar a pessoa, fazer uma divulgação por conta própria pode até ajudar, mas, por outro lado, costuma gerar muitos trotes e informações falsas, infelizmente, acontece demais”.
Nos casos em que a pessoa se ausentou por vontade própria, é comum que essa volta também ocorra por conta própria. Mas se a pessoa costuma se ausentar, ir e voltar com muita frequência, o problema já exige mais atenção. “Os familiares precisam ficar de olho e procurar saber se está acontecendo algo com essa pessoa. Ela pode estar precisando de um acompanhamento psicológico, por exemplo. Isso é muito importante”, acrescenta.
Em Minas Gerais, a primeira atitude, diante de um caso de desaparecimento, é registrar o Boletim de Ocorrência para noticiar o fato. O registro pode ser feito em qualquer delegacia de polícia, qualquer batalhão ou Cia da Polícia Militar, ou mesmo pelo site Delegacia Virtual (https://delegaciavirtual.sids.mg.gov.br/). “É a partir desse registro que será emitido, automaticamente, uma alerta sobre o desaparecimento da pessoa no sistema de informação policial. Então, se por ventura, essa pessoa for abordada pela Polícia Militar, o policial vai entrar em contato conosco”, explica.
Delegada de Polícia da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida em Belo Horizonte, Bianca Landau
Para a confecção do cartaz, se a pessoa desapareceu em BH, o familiar pode procurar pessoalmente a divisão, que fica na rua Brasil, 464. Agora, se a pessoa desapareceu na região metropolitana ou no interior do estado, basta comparecer na delegacia de polícia do próprio município e solicitar a confecção deste cartaz. “A delegacia vai entrar em contato conosco e vamos providenciar a confecção e divulgação. A confecção é imediata. Os familiares só precisam assinar um termo consentindo a divulgação. Afinal de contas, é a imagem da pessoa”, finaliza.
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Postado por Jornal Correio, no dia 24/05/2023 - 09:20