Lafaietense, Pablo foi o único de MG na missão humanitária
Pablo Gonçalves
Jornalista, músico e voluntário
Conhecer os moradores de regiões tão isoladas, que precisam de absolutamente tudo, e poder fazer um pouco de diferença na vida deles foi uma experiência simplesmente inigualável, mas há duas coisas, em especial, que são impossíveis de se descrever por palavras: a sensação de levar um pouco de alento àquelas pessoas e a exuberância das regiões pelas quais passamos. Em julho, estive em uma missão humanitária junto com o instituto Kaleo. Nossa base foi no distrito de Checacupe, a 3.441 metros de altura na região dos Andes Peruanos. Nossa equipe, formada por 36 voluntários de diversas regiões do Brasil e um argentino, viveu 15 dias de um trabalho intenso.
Levantávamos às 5h da manhã, geralmente em uma temperatura de -2°C a -5°C, e carregávamos as caminhonetes com os materiais de atendimento médico, medicamentos, cadeiras de dentistas, compressores de luz e oxigênio e toda estrutura para atendimento às pessoas. Percorremos oito comunidades diferentes atendendo a cerca de 150 pessoas em cada uma delas. Assim, totalizamos cerca de 1200 atendimentos em medicina e odontologia, além das crianças e do público em geral, que recebeu orientações sobre saúde e educação. Chegávamos no começo da noite, desmontávamos toda estrutura, fazíamos a limpeza do material e, no outro dia, carregávamos novamente.
Voluntários que participaram da missão
O meu trabalho se alternou entre o jornalismo e a música. Como jornalista, tive a oportunidade de conduzir um documentário que foi gravado no decorrer da missão e que será lançado em breve pelo instituto Kaleo. O trabalho mostrará a história de algumas pessoas que receberam nossos atendimentos, o dia a dia de uma missão e um relato sobre a cultura local. Foi uma grande experiência ter entrevistado muitas pessoas especiais e conhecido lindas histórias de vida. Como músico, fiquei por conta de fazer as trilhas sonoras com o violão nas apresentações infantis. Descobri algo incrível: o sorriso de uma criança é igual em qualquer lugar do mundo!
Perrengues e aprendizados
Passei por duas grandes dificuldades. Umas delas foi o extravio da bagagem. Fui para essa Missão consciente de que enfrentaria frio extremo, com temperaturas negativas todos os dias, chegando a -5°C. Mas como nem tudo acontece como esperamos, minha bagagem foi extraviada em Porto Velho, e como estávamos em um local isolado, não havia nem a possibilidade de comprar novas roupas. Passei estes 15 dias de missão usando roupas emprestadas (E até o fechamento desta edição, minha bagagem ainda não havia sido entregue).
Pablo ficou por conta de fazer as trilhas sonoras com o violão
Primeira lição: “Precisamos de muito menos coisas que imaginamos. Toda dificuldade gera aprendizado”.
Falta de diesel – Depois de quase 14h de viagem, tendo rodado cerca de mil quilômetros, chegamos à cidade de Puerto Maldonado, onde nos deparamos com uma manifestação de caminhoneiros: a cidade simplesmente estava sem abastecimentos de diesel. E todos os nossos cinco veículos eram movidos pelo combustível. Tivemos que ir de táxi até uma cidade vizinha e trazer diesel para conseguirmos seguir viagem. Quando li nos jornais locais que faltava diesel, pensei que ficaríamos presos por um bom tempo. Para completar a aventura, como estávamos em cinco carros cheios de medicamentos, fomos parados pela polícia peruana diversas vezes, e em todas as abordagens tinha que tirar todo o material das caminhonetes para averiguação.
O idioma foi outro fator que dificultou um pouco. Fomos esperando falar espanhol. Porém, as comunidades que atendemos são tão isoladas que falam um idioma local, o quéchua – que, por sinal, não se parece em nada com espanhol. Mas nada que um pouco de paciência e boa vontade não resolvam.
Durante a missão, foi produzido um vídeo
Enfim, nada tirou o brilho dessa magnífica experiência. Após sorrisos, agradecimentos, olhares de gratidão e abraços, volto sem minha ‘bagagem física’, mas com o coração cheio de gratidão pela oportunidade de fazer a diferença na vida destas pessoas tão necessitadas! Um pouco de mim ficou lá, junto a minha bagagem. Volto uma nova pessoa, valorizando mais as maravilhas cotidianas que temos aqui, como o clima agradabilíssimo, água encanada e quente, alimentação variada e o próprio oxigênio em abundância - coisa que naquelas alturas fez muitos da nossa equipe precisar de atendimento médico. Temos tudo aqui e devemos ser gratos por isso!
Lá não existe SUS / atendimento gratuito. Tudo é pago, desde o atendimento médico aos medicamentos. A maioria dos moradores das comunidades que visitamos trabalha na agricultura familiar; planta o que come. Não há dinheiro circulando nestas localidades, não há energia nas casas, há pouca estrutura e a dificuldade é extrema! É algo muito discrepante: você estar em uma das paisagens mais bonitas do planeta e, ao olhar para o lado, ver uma família tão necessitada!
Voluntários levaram alegria e assistência para as comunidades
Gostei tanto da experiência que já programei uma Missão Humanitária do CL do Bem: em janeiro de 2023, iremos para o Vale do Jequitinhonha-MG. E conto com o apoio do Jornal Correio da Cidade nesta Missão.
Na comunidade de Palcoyo, a quase 5 mil metros de altitude, fizemos um jogo de futebol entre Brasil x Peru – perdemos por 10 x 4. Por causa da altitude [brinca]. Mas fiz um gol do meio de campo.
O nosso futebol: Brasil x Peru
CL do Bem
O jornalista Pablo Gonçalves é responsável pelo CL do Bem que tem por objetivo ajudar as pessoas mais carentes e necessitadas de roupas, alimentos, reforma e construção de casas e apoio social. O CL do Bem mantém uma página no jornal CORREIO que circula semanalmente. Leia mais sobre essa ONG na página 4 do caderno de Cultura desta edição.
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Postado por Frances Elen, no dia 21/08/2022 - 19:40