Com a inclusão na pauta do dia, a língua brasileira de sinais vem se popularizando. Seja por força de leis ou por conscientização, tem crescido o número de surdos e deficientes auditivos que contam com o apoio de um intérprete de Libras. Mas será que, de fato, os não portadores de deficiência estão preparados ou dispostos a participar dessa mudança de paradigmas? A discussão foi levantada pela intérprete Luana Dias, finalista do 1º Concurso de Intérprete de Libras Musical realizado no Brasil. Luana participou da etapa presencial, realizada na sede da Associação dos Surdos de Minas Gerais, em Belo Horizonte, e essa experiência aguçou a sua percepção:
“Gostaria de ter ido mais longe’ – diria um pássaro após alçar seu primeiro voo. Assim foi, para mim, a participação no concurso. Chegaram à final 12 de estados diferentes: Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Mato Grosso do Sul. Todos eram fluentes em Libras, sendo nove ouvintes, dois surdos e um deficiente auditivo. Desses doze, eu fui a sorteada em realizar o duelo presencial com a candidata que levou o primeiro lugar... Mas como o surdo e o deficiente auditivo percebem a música, a ponto de poder interpretá-la para Libras? Essa é realmente uma questão muito pertinente, que provoca reflexões até aos profissionais da área”, questiona.
De acordo com Luana, cada um deles escolheu a estratégia que melhor atendia à sua necessidade, desde o uso do fone de ouvido para ampliar sua percepção acústica, o recurso de clip com legenda, até o trabalho em conjunto com o intérprete de apoio. “Sou pesquisadora da Musicalidade na Tradução em Libras e, nesse meu primeiro voo, ver a forma que cada um deles usou me provocou uma reflexão sobre a nossa sociedade. Será que estamos preparados para a escuta ativa, a fim de promover a inclusão, ou apenas esperamos que os profissionais que trabalham diretamente com a inclusão resolvam tudo, mesmo sem ter condições de trabalho para fazer o seu melhor?”, pergunta.
O mesmo questionamento foi trazido para o universo das salas de aula e sessões públicas: “Será que os professores alinham seus trabalhos junto com os tradutores intérpretes de Libras/Português, ou simplesmente delegam a outros sua responsabilidade de docente? O que temos feito pelas nossas crianças surdas? E será que o Legislativo realmente se preocupa em dar condições de tradução linguística às suas reuniões ou só coloca a janela de Libras e lê aceleradamente suas pautas? Onde anda a Associação de Surdos de Conselheiro Lafaiete (Assular)? Como anda a acessibilidade na cidade de Conselheiro Lafaiete? Você realmente se importa?”, pondera.
Luana Dias lembra que a cidade possui tradutores intérpretes e professores de libras com formação em Letras Libras que atendem demandas até de outras cidades, mas não se sente convicta de que a cidade já esteja fazendo o suficiente. “Esse concurso para mim nunca foi sobre um troféu, e sim, uma forma de militância a favor da comunidade surda, de condições dignas para realização do trabalho do profissional tradutor intérprete do par linguístico Português/Libras e pelo reconhecimento social do status linguístico da Língua Brasileira de Sinais. De nada adianta ter lei sem ter empatia! Que a frase do pássaro – ‘Gostaria de ter ido mais longe’ – ecoe em cada um de nós para juntos voarmos mais uma vez”, finaliza.
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Postado por Nathália Coelho, no dia 11/07/2022 - 16:45