Segue o planeta girando, a vida respirando bondade e fases nada fáceis. A arte e os artistas, poderosos, no meio desse redemoinho, chovem encantos para a ressureição diária da alegria no coração dos homens. E assim se fazem os ciclos das quatro estações do ano que Vivaldi tão bem sonorizou.
O artista de quem vou falar é silencioso, tranquilo, blindado de modéstia tanta que me põe, às vezes, intranquilo, afogado num mar de impotência frente à sua grandeza de talento, cultura, espiritualidade: Aloísio Guimarães, o titio Damião que nas tardes de sábados muito distantes permitiu que eu-criança e muitos outros de minha geração nos aventurássemos a cantar no Rádio Carijós, voando o nosso grande sonho de ser uma estrela comendo chocolates. Devo a ele o incentivo para pisar nos palcos, enfrentar os microfones e a ler com todos os sentidos o maravilhamento das artes.
Esse amigo meu de carinho recíproco que o tempo nunca apagou foi a voz escolhida para levar ao ar as primeiras transmissões das Rádios Carijós e Clube dessa Lafaiete agora mais feliz por ter a fonte luminosa da Praça Tiradentes molhando o ar com cores e movimentos. Ator de sete ou mais fôlego, já emprestou sua pele, carne e ossos para personagens marcantes nos grandes tempos do teatro lafaietense e de Congonhas, a amigável Cidade dos Profetas do mestre Aleijadinho.
Pianista e cantor “de ouvido”, já chegou ao mundo se anunciando como tal. Adulto, montou o Aloísio e seu Conjunto para a animação das noites em que rapazes e moças selavam beijos nas sombras (línguas em fogo), trocavam juras secretas e aguardavam uma semana inteira para irem aos clubes viverem calores, odores, olhares desmaiados. No seguir das ondas da vida, ingressou-se no Vic e seu Conjunto para a continuidade de seu talento artesanal – e por isso legítimo, peculiar – e, mesmo quando passou um tempo nos EUA aperfeiçoando seu inglês e residiu em Belo Horizonte onde fez inúmeras participações no Teatro da extinta TV Itacolomi, não deixou de ser astro, cordilheira, planALTOS...
Prazer é nome pouco e de significação embrionária para descrever a doçura de se ter um diretor teatral tão preocupado com a perfeição e carinhoso nos ensaios. “O Crime e suas Mirongas”, comédia de sua autoria, me deu a coragem necessária para encarar personagens protagonistas. E a montagem, a fizemos na infinitude da boa vontade e paciência deste autor-diretor, mestre meio que anjo, meio que pai e mãe.
Quem cruzou os caminhos de Aloísio sempre terá em mente a incrível seleção musical de seus programas Rádio Relax (26 anos na Rádio Carijós) e Universo da Música (Rádio Queluz). Namorado das requintadas vozes e portentosas orquestras, não fugiria dessa rota de encantar seus ouvintes e fãs com as alturas da beleza e, mesmo assim, seguir pelas praças e ruas como os seres anônimos que entendem o valor do silêncio e da modéstia, descartam com elegância os tapetes vermelhos, a fugacidade da fama, a glória de pés de barro.
Paulo Antunes
Professor de Redação e Português, escritor, ator
Mestre em Letras (Linguagem, Cultura e Discurso)
[email protected]
Elegante e gentil com o mundo: homem comum
Em Paris, após voar pela Europa: um quase cidadão do mundo
Ator que navega bem em dramas, tragédias e especialmente comédias
O pianista e cantor “de ouvido” para os que sabem ouvir
Aloísio Guimarães, o radialista que difundiu as grandes vozes, as orquestras e a música clássica em Lafaiete e região
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Postado por Nathália Coelho, no dia 29/06/2022 - 16:00