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Comunidade


Sem transporte para a Apae, mães fazem apelo desesperado

Mães pedem piedade e compaixão ao poder público para devolverem aos seus filhos o direito constitucional à saúde e à educação




 

A dona de casa Maria das Mercês, 56 anos, até tentou, mas desmontar e montar a cadeira de rodas a cada ida e volta da Apae se tornou uma tarefa pesada demais. Por isso, a filha, Paloma, 25, precisou abandonar os cuidados que recebia desde os 12 anos e que fazem a diferença na sua vida. Viviane Cristine da Silva Gama, 37 anos, enfrenta um impasse semelhante. Deficiente visual, ela depende do transporte da Apae para que a filha, Stefane Cristine, 15 anos, viva os momentos mais felizes da sua vida. Histórias como essas se repetem desde que o transporte de alunos da Apae foi cortado, ainda no ano passado.

Com inúmeras dificuldades para se locomoverem, essas pessoas veem o seu tratamento ser estagnado, enquanto pais e mães pedem piedade e compaixão ao poder público para devolverem aos seus filhos o direito constitucional à saúde e à educação: “Minha filha tem paralisia cerebral e é cadeirante. Antes, era o ônibus da Presidente, para cadeirantes, que a buscava. Mas esse serviço foi interrompido um dia antes do início oficial da pandemia e não foi restabelecido com a chegada da nova empresa. E sem esse ônibus adaptado não tem como levar a Paloma, a não ser que eu desmonte a cadeira. Assim como ela, são muitas crianças que hoje estão sem acesso à Apae”, lamenta Maria das Mercês.

Cadeirante e com problemas no desenvolvimento motor, Flávio Gabriel Fidelis, 13 anos, fazia acompanhamento na Apae há 10 anos. Mas sem o transporte, o filho da dona Lucilene Estevam da Costa Fidelis, 51 anos, não consegue se locomover do Sion ao Campo Alegre: “Está difícil para levar e o que me dói é que ele precisa de tratamento. A fisioterapia faz diferença para ele”, conta. Para Viviane, o mais difícil é ver a tristeza nos olhos da filha adolescente, Stefane, que era acompanhada pela Apae desde o deu 1º ano de vida: “’Quero escola’ foi a primeira coisa que a minha menina falou e é uma das duas frases que ela diz. A outra é ‘Quero água’. Você vê a feição dela. O coração até dói ao ver as vans passando na rua de casa e ela na garagem, implorando para ir para a escola”, conta a mãe, que é deficiente visual e vem sofrendo também, por não poder matar a sede de aprender da filha: “Se ela voltar para a Apae, isso vai melhorar não só o psicológico dela, como o da gente, porque eu estou dando crises de ansiedade direto; fui parar até no pronto-socorro. Vejo minha menina triste, perdendo tudo o que ela conseguiu alcançar na Apae, e isso é desesperador. Lá ela trabalha a coordenação motora, e como em casa a gente não sabe fazer, ela está atrofiando”, desabafa.

O problema afeta, pelo menos, 12 crianças que eram transportadas na van da Apae: “A Apae tem até um micro-ônibus, que foi doado pela MRS, mas não tem condições de arcar com o custo de contratação de um motorista. Por isso, ela entrou com um plano de trabalho solicitando à PMCL que arque com esses custos, mas, até agora, nada.”

Lucimar de Assis Martins, 53 anos, até tentou levar o filho, Lucas Augusto Martins Menezes, 20 anos, de coletivo. Mas o trajeto entre o Paulo VI e o Campo Alegre nunca foi fácil: “O Lucas faz acompanhamento há, pelo menos, 10 anos. Quando o coloquei na Apae, tentei levá-lo de ônibus, mas meu filho é autista do último grau. Como o ônibus é agitado, às vezes, ele me batia, agredia as pessoas dentro do ônibus. Tínhamos que descer no meio da rua e voltar para casa a pé. Foi assim até conseguirmos o ônibus da prefeitura, que desde o ano passado foi cortado”, explica.

Com os altos gastos com a medicação, consultas em BH e Barbacena, a família sofre ao não poder custear alguma forma de transporte que devolva ao filho o direito à educação e à saúde: “Meu filho toma cerca de 30 comprimidos por dia. Então, não tem disposição para andar. E nós não podemos pagar. O pouco que o meu marido ganha a gente gasta com remédios e consultas em BH e Barbacena. Mas como posso negar isso ao meu filho? É na Apae que ele aprende a conviver com as pessoas. Ele é apaixonado pela Apae; veste o uniforme direto, dia e noite, e pede para que eu o leve”, conta a mãe, que assim como as outras, percebe a falta de tranquilidade que sente ao saber que o filho está feliz e bem cuidado na Apae: “Enquanto ele está lá, eu consigo resolver os nossos problemas. Acho que o prefeito e esses vereadores deveriam pensar no que uma mãe passa com um filho especial dentro de casa.

Todas as cidades oferecem condições para que as crianças frequentem a escola. E se crianças sem qualquer deficiência têm transporte em Lafaiete, por que os nossos, que têm problema, não têm esse direito? Então, eu peço encarecidamente: tenham piedade, tenham dó de nós. Aliás, tenham compaixão pelas nossas crianças, nossos filhos. Deem condições para que eles frequentem a Apae”, finaliza.




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Postado por Nathália Coelho, no dia 06/04/2022 - 10:15


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