A pintora Cidinha Dutra em seu ateliê, um lugar de criar mundos
Quem a vê assim, na leveza solta dos que têm o espírito em paz, imagina uma mulher normal, toda mãe e carinho, voz contida em contraste com o olhar penetrante. E essa forma de posicionar os olhos sobre o mundo, e o tudo e o nada dele, é que falam que de suas mãos brotam as sementes das maravilhas de imagens que já correm o planeta, fazem almas transbordar, põem no brilho dos olhares estrelas grávidas de maravilhamento intenso. Não por acaso, se fez conhecer pelo nome no diminutivo: Cidinha.
Sabe-se que há figuras femininas de destaque por incendiarem a vida com palavras escritas ou cantadas, estrelas da literatura e da música; mas quando o tema da conversa se converge para o campo da pintura, o sobrenome Dutra diz da Aparecida, a pintora-mestra que conduziu gentes e gentes com talento para desenhar vida com os pincéis, fez muitos se descobrirem como narradores que fazem da imagem e das cores seus instrumentos para a perfeição da pintura.
O chafariz da Lafaiete antiga, retrato de uma época
Cidinha Dutra veio ao mundo na Fazenda do Bom Retiro, em Santana dos Montes e, em Lafaiete, fincou raízes para aprimorar sua arte, criar a família e se projetar como o ícone dessa arte milenar. Sua discrição e modéstia levam paz com dose certa ao seu talento e, assim, dia após dia, vai tecendo sua vida e sua capacidade mágica de se multiplicar em tudo, pois seus quadros levam a pura beleza aonde se estacionam para tocarem corações.
Não é à toa que diz que “o amor pela arte me sugeriu a profissão”, deixando implícito que nasceu com o dom primeiro para a pintura. Em minutos poucos de prosa com ela, já se adivinha seu pensamento sobre o essencial num artista: gosto e dedicação, pois foi esse percurso que lhe colocou no patamar dos maiores, afinal na época da escola, numa cidade que somente oferecia cursos de Contabilidade e Magistério, optou pelo caminho do bordado, da costura e, óbvio, da pintura, essa luz que se acendeu com força em sua carne. E tendo feito apenas 6 meses de aulas com a professora Bernadete Maia, decidiu-se por um voo próprio, talento solitário... Se propôs a se ser com suas próprias mãos: a pintora-estrela.
Cristo, idealizado com jogo de luz divino
Quem tem brilho próprio se faz sozinho; Cidinha assim se fez e, mesmo estacionada na vida de mãe, de dona cuidadora de lar, extrapolou fronteiras, e já há décadas voa livre nos sonhos de quem sabe apreciar uma tela, um espaço de vida interior muito cheia dentro de uma moldura.
Na inauguração deste mês de agosto de 2021, esta página é toda dela, só e para ela. Esta página é o abraço forte e o beijo de todos nós, fãs inquietos, em suas mãos, seus olhos, seu apurado senso estético para – quem sabe? – tentar uma homenagem, mesmo cientes de que quaisquer homenagens serão muito pequenas para um astro de grandeza em fogo. Que seja assim: ela sendo ela, mundo grande para expansão de nosso próprio universo.
Flores, o perfume é acentuado pelas mãos da artista
Texto: Paulo Antunes
Professor de Redação e Português, escritor, revisor, ator, membro da ACLCL
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Postado por Frances Elen, no dia 23/08/2021 - 17:51