Lafaiete eternizada quando ainda Queluz de Minas
Paulo Antunes
Professor de Redação e Português, escritor, ator
Mestre em Letras (Linguagem, Cultura e Discurso)
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Voa o tempo, areias e aranhas deixam seus vestígios sobre os homens, seus relógios, sua arte. Não é somente escritor quem grafa em papel as belezas do mundo, a eletricidade do ser. Há artistas múltiplos que percorrem com a boa vontade dos de coração limpo os caminhos que enchem os olhos dos homens de prazeres indizíveis: em uma dessas trilhas, distraído, fiquei face a face com Sérgio Trajano e, dentro desse milagre, cresceu o sol de uma amizade sem rusgas que beijou cedo nossa adolescência de quietude e rebeldia, pois que juventude é audácia e mergulho.
Desde então, nos identificamos num sim de companheirismo solidário e, jovens de cabelos longos e jeans, mil ideias na cabeça, confiamos em nós próprios e na arte. Identifiquei em Trajano a literatura de imagens que fazia e tomei mais gosto pelas letras que eu rabiscava em momentos inesperados ou não. Observando e sendo observado, bebemos no mesmo cálice os aprendizados um do outro, calados, em êxtase fundo. Assim posso dele falar e de sua arte como um brigadeiro disserta com ternura sobre uma barra de chocolate.
Esse amigo meu, com quem passo tardes mornas ouvindo Elis, é eclético em seu ofício de belezas porque teve como inspiração a grandeza de Jair Junqueira e aprendeu as manhas maiores da pintura com a perfeição da doce mestra Cidinha Dutra, outra alma pura, leveza, talento. Não por acaso que em seu atelier de estrelas e palavras tantas, passa o tempo criando por pura inspiração ou encomenda. Lá me deparo com a face cheia de fé de Bethânia; a paisagem de uma praça lafaietense escrita com a poesia do amarelo que lembra tempos distantes, carros lentos, gente em paz consigo; flerto com anjos barrocos de olhares devassos; beijo com os olhos sinos, flores, Nossa Senhora e tantas outras divindades que povoam as paredes do hotel onde reside e se nutre com o carinho do irmão e das irmãs, dos fãs, dos amigos...
E indo lá no baú do tempo, esbarro com Sérgio, o cantor, muito severo na escolha do repertório de autêntica MPB, dos convidados com quem dividir o palco. Numa dessas, de Carlitos, voamos juntos num show que extrapolou a grande área do palco do clube e nos lançou por minutos num infinito cheio de segredos. Foi bom, intenso, memorável: paz e bem de quem levita exercitando seu dom.
E de voos maiores Trajano entende porque seus quadros levitam e levam a levitar olhares em várias partes do Brasil e do mundo. Teve o gosto glorioso de expor na casa do artista José Carlos Seabra e Fátima Milagres, mecenas do tudo. De uma exposição no Iate Clube do Rio de Janeiro saiu sem tela alguma: colecionadores se encarregaram de espalhá-las pelo mundo.
Hoje, artista casado com sua arte e com poucos e bons amigos, vai tecendo histórias imagéticas de homens, mulheres, santos, cidades, abstracionismos... com a serenidade de quem se instalou bem dentro de si próprio, em seu canto preferido, para gestar e distribuir ao mundo todas as cores de que o ser humano precisa para se sentir pleno. Simples, assim. O resto é silêncio, calmaria, cachoeira de Oxum...
Sérgio Trajano, o brilho do olhar de quem vê com a alma
Bethânia retratada pelo artista: sua musa de todas as horas
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Postado por Mauricio João Vieira Filho, no dia 27/06/2021 - 15:39