Elas já foram levadas por pombos, navios, mensageiros. Já foram escritas em papiros e pergaminhos antes que se inventasse o papel. Portadoras de boas e más notícias, as cartas fazem parte da vida das pessoas há muito mais tempo que se imagina. Não se sabe ao certo quando elas surgiram, mas os reis do antigo Oriente Médio já escreviam cartas. No Egito, mais de 4 mil anos antes da Era Cristã, já existiam os sigmanacis, mensageiros que levavam recados escritos a pé ou montados em cavalos e camelos. Elas também estão entre os livros que formam a Bíblia: 21 cartas, escritas por Paulo e outros seguidores de Cristo, remetidas a povos como os romanos e os habitantes de Corinto, na Grécia Antiga. E bastou que a esquadra de Cabral aportasse para que a primeira carta brasileira de que se tem notícia fosse enviada ao rei de Portugal por Pero Vaz de Caminha.
Se antes elas eram a base da comunicação, há algumas décadas, as cartas foram caindo em desuso. Primeiro pela chegada do telefone, depois pelo telegrama, e-mail e, agora, aplicativos de mensagens, como o WhatsApp. Mas quem já sentiu a sensação de receber uma carta concorda: a tecnologia rouba parte da emoção que vem com a espera, o suspense, a incerteza da resposta. “Quando se tinha o hábito de escrever e receber cartas, as pessoas ficavam na expectativa de ler notícias de familiares e amigos. Porém, nos dias de hoje, isso se tornou raridade. Cartas, bilhetes, telegramas são pouco vistos. Eu, particularmente, tenho o hábito de escrever cartas e enviá-las pelos Correios, o que acontece quase que semanalmente. E adoro quando recebo cartas de resposta”, revela a lafaietense Ângela Sampaio.
Para a professora aposentada, trata-se de um hábito que deveria ser cultivado, mas que está cada vez mais distante: “À criança, o ideal seria restringir, até a uma certa idade, o acesso ao celular e demais telas. Os pais deveriam estimular seus pequenos a ler, escrever, colorir, pintar e fazer outras atividades manuais e de livre criação, assim como deveriam incentivá-los a criar histórias, seja contando, desenhando, fazendo mímicas, atividades que estimulam a cognição da criança”, avalia Ângela, que lamenta a perda do costume: “Na atualidade, todas as pessoas - não é uma prerrogativa dos jovens - estão economizando até em mensagens de WhatsApp, colocando carinhas, boquinhas, figurinhas, etc. A preguiça de escrever virou rotina em grande parte dos casos”, observa.
Também é inegável que cartas escritas pelas próprias mãos do autor transmitem traços da personalidade e emoções que um e-mail não é capaz de transmitir, como disse uma amiga do escritor Overlac Menezes, autor do livro “Cartas e suas histórias”, em uma carta a ele enviada: ‘Bill Gates que me desculpe. Ele pode ser rico e inteligente, mas deve ter poucos amigos! Pois, se tivesse um amigo como você, saberia o prazer de receber uma carta, e não um e-mail’.
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Postado por Mariana Carvalho, no dia 28/03/2021 - 11:48