Com 29 anos de idade, sem qualquer doença preexistente, praticante de esportes e sem vícios – nem mesmo bebida ou cigarro, o técnico em elétrica e motorista rio-esperense Fernando Paulo Pinto da Silva não seria a primeira pessoa que qualquer um de nós esperaria ver na lista de vítimas fatais da Covid-19. Mas a pandemia, que só no Brasil já matou mais de 45 mil pessoas, não poupou a sua vida.
De acordo com sua irmã, a técnica em Enfermagem Ana Paula Pinto da Silva, 31, Fernando queixou-se dos primeiros sintomas na sexta-feira, dia 5. “Ele chegou à casa da nossa mãe e falou que estava com dores nas costas. Eu não estava em casa nesse momento. No sábado, ele permaneceu em casa, em estado normal, mas no domingo passou a reclamar de mais dores nas costas, deu febre e estava tossindo. Como também sou profissional de saúde e sei do protocolo da Covid, levei ele para o hospital de Rio Espera em carro particular”, detalha.
Já na unidade de saúde da cidade, a médica plantonista teria diagnosticado seu caso como suspeito de Covid-19. “Ela não fez nenhum exame, mas o encaminhou para Conselheiro Lafaiete em uma ambulância da unidade... Então, o meu irmão foi recebido na policlínica, onde o médico plantonista pediu raio-x, diagnosticou como pneumonia dupla, fez o pedido de tomografia e realizou, também, o exame PCR, de Covid-19. Após a troca de plantão, segundo meu irmão, esse outro médico disse que não tinha nada a ver com Covid, que ele estava com pneumonia dupla e que poderia se tratar em casa. Deu alta, dizendo para ele sair o mais rápido da policlínica porque ele poderia se contaminar pela Covid-19 e cancelou a tomografia”, relatou.
Mesmo com o quadro de pneumonia dupla e suspeito de Covid-19, Fernando não foi mantido internado ou em observação: “Ele permaneceu em casa por dois dias aguardando o resultado do exame, como o médico que deu alta orientou. Porém na quarta-feira de manhã, ele estava passando mal e eu não quis mais aguardar o resultado do exame e chamei o Samu. Nesse momento, recebi a notícia de que havia testado positivo. Por volta de 21h, tive a notícia de que ele tinha sido transferido para o Hospital de Campanha de Lafaiete, porque o seu estado estava grave”.
A saúde de Fernando se agravou e após dois dias ele acabou falecendo em 12 de junho, já com o diagnóstico confirmado para Covid-19: “Na minha opinião, ele deveria ter aguardado o resultado do exame na policlínica, e não em casa - ainda mais que estava sendo tratado de pneumonia dupla. Tanto eu, como minha família, estamos nos sentindo sem chão. Essa foi a primeira vez que eu consegui falar sobre isso tudo. Até então, era meu namorado que respondia a essas perguntas, porque estou muito abalada emocionalmente com tudo o que aconteceu”, desabafa.
Após a morte de Fernando, a família foi posta sob monitoramento. Sua esposa, e mãe do seu filho, de apenas 1 mês, está internada e os demais familiares permanecem em isolamento: “A esposa dele testou negativo para Covid-19 por três vezes, mas o médico de Rio Espera achou melhor transferi-la. Ela foi submetida a uma tomografia, porque estava com alguns sintomas, e foi encaminhada para a policlínica. Porém, o médico da policlínica a transferiu para o Hospital de Campanha, onde ela permanece sob cuidados. O resultado do exame dela deve sair amanhã [dia 17/06]”, disse ela na época. “Aqui em casa, estamos todos aguardando em quarentena para fazer nosso teste rápido, porque tem os dias certos para fazer”, explica Ana Paula.
Agradecendo a toda equipe do Hospital de Campanha de Lafaiete pelo profissionalismo e educação, a irmã de Fernando ainda questiona a alta do irmão da policlínica: “Volto a dizer: acho que meu irmão deveria ter permanecido na policlínica. Gostaria muito que a Secretaria de Saúde me informasse por que isso não foi feito”, finaliza.
O Jornal CORREIO enviou ofício à Secretaria de Saúde para esclarecer o fato ocorrido na policlínica.
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Postado por Redação, no dia 28/06/2020 - 20:32