“De uma forma geral, estamos vivendo tempos sombrios. A Cultura, sobretudo, sofre a duras penas este momento. Já é de conhecimento do setor que todas as vezes que uma crise chega, seja ela de qualquer proporção, é sempre na Cultura que acontecem os primeiros e os maiores cortes. Aqui, na Cultura, estão os “supérfluos” da sociedade – é como nos sentimos! Se pudermos existir, tudo bem; estamos por aí. Mas se não existirmos, também não faz muita diferença. Ninguém vai fazer manifestação, bater panelas, greve, porque isso ou aquilo na Cultura não está funcionando. Podem fechar cinemas, teatros, museus, bibliotecas, shows... não haverá grandes reclamações ou protestos.
Se antes, realizar uma atividade cultural, investir num projeto cultural, ou restaurar um imóvel, reconhecido como Patrimônio Histórico, já era ‘jogar dinheiro fora’, ou ‘diminuir receitas da saúde, da educação, ou qualquer outro setor’, agora, neste momento, em que enfrentamos a maior crise de saúde e quem sabe a maior crise econômica dos últimos 100 anos, onde vai parar a Cultura? Melhor: onde está parada a Cultura? É importante dizer que, na Cultura, estão pessoas que também comem, bebem, vivem... têm família, filhos e, consequentemente, consomem e gastam. E os seus recursos são oriundos do trabalho que realizam. Para uma grande maioria das pessoas, artistas, agentes culturais, não deviam cobrar pelo que fazem; ou o que fazem não é trabalho... Uma das perguntas que mais ouvimos é: você cobra por isso? Sim! Arte é trabalho!
Para muitos, milhares, a arte é trabalho. Nos grandes centros urbanos, cantar, dançar, interpretar, escrever, pintar, compor é trabalho e fonte de renda - às vezes, a única fonte da família. Nos grandes centros urbanos, junto a esses, músicos, arranjadores, maestros, cenógrafos, técnicos de som, luz, figurinistas, camareiros, faxineiros, são prestadores de serviços da arte e da Cultura que hora estão parados, como os demais setores. E à míngua, praticamente esquecidos, porque falta quem os defenda ou grite por eles... e ai deles se abrirem um teatro, levantarem a lona de um circo... Além das autoridades competentes, muitas vozes contra eles se levantarão, pois estarão promovendo aglomerações, gastando com o desnecessário, etc.
No nosso caso em particular, e no caso de muitas outras cidades, onde a Arte e a Cultura não são tidas por todos como uma profissão ou meio de sustento da vida, tudo parece ainda menos importante. Podemos aguardar. O Congado não dança, o Coral não canta, o Teatro não abre suas cortinas, a Banda não toca... e podemos esperar. Ninguém vive mesmo disso! É o que escutamos no “silêncio” que ocupa os espaços culturais da cidade. Não estávamos preparados para isso. Nunca imaginávamos que, um dia, teríamos que nos resguardar, sem ao menos podermos resistir atrás dos nossos muros. Já tivemos muitas crises, muitos momentos onde não existia investimento, estímulo, promoção... mas continuávamos nos reunindo, nos encontrando e fazendo o possível. Atualmente, nem encontrar podemos.
Preocupam-nos os artistas que, morando no interior, ainda se aventuram a viver da sua arte. Músicos, artesãos, artistas plásticos, professores de arte, dançarinos, animadores de festas, cantores da noite... como estão? Como estão mantendo suas famílias? De onde estarão neste momento tirando o sustento diário de suas vidas, que antes vinha do violão, da voz, do barzinho? E o que fazer em favor deles? Como contribuir para amenizar esse vácuo que a pandemia deixa na vida do artista?
O artista, comumente, é solitário, vaidoso e não está acostumado a pedir; esmolar qualquer coisa. Simultâneo a essas características pessoais, as portas dos setores culturais, ou de quem os podia abrigar, também estão fechadas... De onde poderá vir o socorro? A internet tem se apresentado como uma saída. Ainda bem que ela existe e, para muitos, torna-se uma “válvula de escape”, se não financeiro, como uma “janela” para expor seu talento, aliviar suas tensões e, sobretudo, encontrar com o seu público.
Temos visto, também pelas redes sociais, iniciativas de reuniões virtuais, festivais online, apresentações individuais e até mesmo protestos, manifestos que tentam, a duras penas, angariar algum olhar para a classe. Desses últimos, muitos direcionados à falta de políticas públicas que possam calçar os artistas e profissionais que os assessoram durante a pandemia. No entanto, a agilidade e dinâmica da internet não conseguem dar soluções imediatas aos problemas gerados pela pandemia e que assolam o país inteiro e de maneira mais intensa e sem perspectivas aos artistas.
Diante de todas as reivindicações para abertura dos setores comerciais, supomos que os últimos a serem abertos serão os espaços culturais, o que nos faz prever que 2020 será um ano nulo para a Cultura, cheio de cancelamentos, adiamentos e não promoção do pouco ou do muito que tentamos realizar, nós, aqui em Conselheiro Lafaiete, e outros tantos milhares de profissionais da Arte nos mais distantes pontos deste Brasil. A Cultura pede socorro”.
Geraldo Lafayette
Teatrólogo, ator e vereador
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Postado por Redação, no dia 29/05/2020 - 12:20