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Uniões homoafetivas crescem 400% e Lafaiete ocupa 3º lugar na região




A pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2018 mostra que o casamento entre pessoas do mesmo sexo teve aumento de 61,7 % em todo do Brasil, se comparado a 2017. Em 2018, foram registrados 9.520 casamentos civis entre cônjuges do mesmo sexo, ante 5.887 em 2017. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na região, a postura parece ser mais conservadora. Em 2018, foram 15 uniões entre cônjuges do mesmo sexo (oito entre homens e sete entre mulheres). O crescimento foi de 15% quando comparado a 2017. Já quando se compara o 1º ano (3 casamentos em 2013) com o último (15 em 2018), o crescimento é de 400%. O IBGE não divulgou os dados de 2019. É importante destacar que, nessa estatística, não são consideradas as uniões estáveis: só entram na conta os casamentos registrados em cartórios. Mais povoadas da região, Barbacena e Lafaiete também foram as primeiras a registrar oficialmente uniões homoafetivas. Ainda em 2013 – ano em que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a obrigar os cartórios a realizarem uniões entre casais do mesmo sexo - houve um casamento entre cônjuges masculinos em Lafaiete e dois entre cônjuges femininos em Barbacena.

Em 2014, foram seis as uniões entre homens - Barbacena (3), Cristiano, Itaverava e Ouro Branco - e apenas duas entre mulheres (Barbacena e Congonhas). Seis anos após a lei ter entrado em vigor, Barbacena ainda lidera as estatísticas: soma 10 casamentos entre homens e 12 entre mulheres. Congonhas vem em segundo com 11 (sete entre mulheres e quatro entre homens) e Lafaiete na sequência, com nove (seis entre mulheres e três entre homens). Analisando de maneira geral, os números ainda são pouco expressivos: exatamente 50 uniões entre 2013 e 2018 (23 entre homens e 27 entre mulheres), representando 0,34% do total de 14.726 uniões oficializadas entre 2013 e 2018. Mas os dados se tornam mais substanciais se comparadas as três uniões registradas em 2013 e as 15 em 2018 (diferença de 400%). Em contrapartida, mais da metade das cidades da região (12 em 20) ainda não possuem registros de uniões homoafetivas. São elas: Capela Nova, Caranaíba, Casa Grande, Itaverava, Jeceaba, Lamim, Piranga, Queluzito, Rio Espera, Santana dos Montes, São Brás do Suaçuí e Senhora de Oliveira. Para a gerente da pesquisa, Klivia Brayner de Oliveira, a população tem cada vez mais conhecimento sobre essa norma. “As pessoas, tendo ciência disso [resolução do CNJ], estão aproveitando e oficializando [as uniões], principalmente as mulheres, que gostam de oficializar a relação. Entre elas, você observa que isso está se tornando mais popular. Com mais acesso à informação, as pessoas estão decidindo dessa forma”, disse a analista.

Panorama nacional Segundo o estudo, as uniões entre mulheres cresceram 64,2% em todo o Brasil em 1 ano, passando de 3.387 em 2017 para 5.562 em 2018. Os casamentos entre homens subiram de 2,5 mil para 3.958, o que representa um aumento de 58,3%. Na pesquisa anterior, comparando os anos de 2016 e 2017, houve aumento de 10% no número de registros de uniões entre pessoas do mesmo sexo. Nos casamentos civis entre solteiros de sexos diferentes, os homens se casaram, em média, aos 30 anos, e as mulheres, aos 28 anos. Nas uniões LGBTI, a idade média foi de 34 anos para os homens e 32 anos para as mulheres. Já o número total de registros de casamentos civis foi de 1.053.467 em 2018, uma redução de 1,6% em relação ao ano anterior. As Estatísticas do Registro Civil do IBGE reúnem informações sobre nascidos vivos, casamentos, óbitos e óbitos fetais, informados pelos cartórios de Registro Civil de pessoas naturais, bem como sobre os divórcios declarados pelas varas de Família, foros, varas Cíveis e tabelionatos de Notas.

Acima de qualquer preconceito, elas vivem 20 anos de união


Andreia Imaculada Reis, 53 anos, e Marilene Maria do Carmo, 43, em breve farão parte dessa estatística, mas antes, em outubro deste ano, completam uma marca importante: 20 anos de união. Elas se conheceram na antiga Quitandinha e não precisaram de muito tempo para definir que queriam viver o resto da vida juntas. Donas de um amor que se fortalece com o tempo e não se abala com o preconceito, elas nos contaram um pouco da sua história. Confira:

Quando e como se conheceram?

Andreia: Estávamos na antiga Quitandinha quando eu vi a Marilene e pedi para conversarmos. Ela estava com um amigo e me disse que depois conversaríamos. Deixei o meu telefone com ela, com a promessa de que ela me ligaria, mas fiquei pensando: “Não. Eu preciso conversar um pouco com ela”. Fui para trás do balcão do bar do Peninha, e quando ia acender um cigarro, ela me pediu isqueiro. Sem querer, acabamos trocando os cigarros. Um tempo depois ela me ligou. Foi tudo muito rápido: nos conhecemos no dia 30 de julho e no dia 10 de outubro viemos a morar juntas.

O que você sentiu quando Andrea pediu para conversar com você, Marilene?

Marilene: Deu um calafrio. Só três dias depois eu consegui ligar para ela.

O que vocês conversaram?

Andreia: Eu pedi o endereço dela, mas quando ela foi me passar, a ligação caiu. Peguei as informações que eu tinha e, um dia depois, chamei uma amiga para me ajudar a encontrá-la. Fomos perguntando até achar a casa dela. Como a Marilene não estava, a irmã dela me deu o endereço do trabalho. Conversamos e marcamos de sair. Daí para frente, são quase 20 anos juntas.

Por que você insistiu tanto? Você sentiu que seu futuro seria com a Marilene?

Andreia: Eu tinha certeza de que ela seria a mulher da minha vida - como ela é até hoje. Sinto que o nosso amor é eterno, e mesmo que amanhã eu venha a falecer, continuarei amando a Marilene de onde eu estiver. Você acha que o contrato de vocês foi o primeiro de uma união homoafetiva em Lafaiete? Andreia: Isso aconteceu há mais de 10 anos. Tenho quase certeza de que sim e, sem dúvida, fomos as primeiras a divulgar. Depois que a gente fez, várias pessoas fizeram o mesmo.

Você acha que quebraram um preconceito na cidade?

Andreia: O tabu foi quebrado. Mas eu te falo que o importante não é mostrar para as pessoas o que você é. Nossa obrigação nessa vida é ser feliz: não importa se você é pobre, rico, branco, preto, azul; se é homossexual ou hétero. Somos obrigadas a ser felizes e respeitar ambas as partes. É isso que vivemos.

Como foi essa aceitação dentro da família?

Andreia: De ambas as partes, todos aceitaram bem. Inclusive eu pedi a mão da Marilene para a irmã mais velha dela, que é como uma mãezona para nós.

Qual foi objetivo do contrato? Vocês se preocuparam em resguardar seus direitos?

Andreia: Sim. Assim como casais hétero, nós temos direitos – e estou disposta a lutar até o fim por eles. Temos casa, carro, motos, enfim, bens materiais que conquistamos juntas. Então, se amanhã ou depois uma das duas falecer, exigimos os direitos totalmente iguais para ambas as partes.

E o casamento civil, em cartório. Vocês pretendem fazer?

Andreia: Com certeza! Vocês estavam me falando que a relação de vocês é espelho para outros casais.

Por quê?

Andreia: Muitas amigas e amigos dizem se espelhar na gente. A gente não sabe o que é falar em voz alta uma com a outra. Não brigamos e não temos esse negócio de dormir emburradas; amanhecer emburradas. Somos duas mulheres e as mulheres se entendem: sabem o que a outra precisa. Se tenho vontade de fazer uma coisa e a Marilene não quer que eu faça, ela vai me explicar por quê. Ela diz: “Amor, estou vendo que isso aqui não é legal, mas se você quiser fazer, você faz”. Então eu paro, penso que Marilene tem razão e entramos em um comum acordo. Nunca tomamos uma decisão sem as duas darem a palavra final. A resposta é das duas, independentemente se é um sim ou não.

Vocês já sofreram algum preconceito aqui na cidade?

Andreia: Já, mas não ligo para isso. A gente se sente muito mais ‘nós’. O que importa é o nosso amor. O que as pessoas pensam, para mim, não faz diferença, porque não são elas que pagam minhas contas.

Vocês têm uma empresa, não é?

Andreia: Eu e a Marilene somos proprietárias da Capotaria Reis. Falo com orgulho, porque somos as únicas mulheres capoteiras de Lafaiete e região. Amamos a nossa profissão. Lógico que trabalhamos para sobreviver, mas não é só isso. Quando um cliente chega pela primeira vez, ele fica encantado: ‘Mas são duas mulheres? Vocês vão tirar banco, fazer solda?” Digo que sim e entregamos o serviço perfeito para a pessoa. Graças ao bom Deus, temos uma aceitação muito boa da nossa parte profissional e também na nossa vida pessoal. Somos lésbicas? Somos! Mas sempre nos trataram com respeito. Já houve pessoas que fizeram brincadeiras bestas com Marilene, mas respondi à altura na mesma hora.

O que vocês podem dizer para casais que querem oficializar a união?

Andreia: Se realmente é o que querem, levantem a cabeça e façam, porque viver feliz é muito bom. Mas se respeitem e assumam realmente aquilo que estão decididos a fazer, porque você não pode se casar em um dia e jogar a pessoa na rua no outro. É preciso pensar no que você quer. Se realmente for isso, boa sorte e que Deus abençoe.

Vocês pensam em adotar um filho?

Andreia: Há duas pessoas que temos como filhos, que são os irmãos da Marilene. Daniel e Helena vieram morar com a gente e eles me têm como mãe. São nossos xodós. Hoje eles têm 35 e 32 anos. Daniel me deu dois netinhos, que são a paixão da minha vida. Por isso, hoje, não nos preocupamos tanto com isso. A Marilene já nos deu dois filhos e dois netos, que são lindos.




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Postado por Redação, no dia 16/03/2020 - 13:56


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