Do outro lado do mundo, uma família de Itaverava sente na pele toda a angústia causada pela explosão do coronavírus. Tânia Reis viajou para a China, onde comemoraria com a filha e o genro a chegada do ano novo (que, no país, é celebrada em 25 de janeiro). Mas a rápida proliferação da doença fez com que a família ficasse ‘presa’ em seu apartamento, em Shanghai. “Estamos em guerra contra o invisível: a gente não sabe onde o inimigo está. Tudo é muito estranho. A pedido do governo, estamos em casa desde o dia 24 de janeiro. Já são 28 dias sem utilizar academia e a área externa do condomínio, por exemplo. Parece que estamos em uma cidade fantasma. E olha que Shanghai possui 27 milhões de habitantes – uma população oito vezes maior que a de Belo Horizonte”, explica.
De acordo com Tânia, toda a rotina foi alterada em nome da segurança: “Aqui solicitamos alimentação e outras necessidades do dia a dia por aplicativos. Quando o entregador chega à portaria, o porteiro mede sua temperatura e se ele tiver febre, não pode entrar. É sempre um funcionário do condomínio que traz as nossas compras, bate a campainha, deixa os produtos e vai embora. Recebemos a sacola com informações de quem trouxe o produto, a temperatura do produto, como foi embalado, tudo com a máxima segurança possível. Retiramos, lavamos as mãos e aí que vamos comer ou utilizar o produto”, detalha.
O esquema de segurança é ainda mais forte em Wuhan, uma cidade do interior com nada menos que 11 milhões de habitantes, onde o vírus teria surgido. “O vírus começou a se espelhar próximo ao ano novo chinês, data em que, assim como o Natal, no Brasil, muitas pessoas se deslocam para visitar a família. Por isso, o governo já calculou, desde o início, que seriam muitos os infectados. Então, medidas foram tomadas para poder conter essa situação. A partir do momento em que o coronavírus começou a se alastrar com muita rapidez, Wuhan foi fechada pelo exército. Ninguém pode entrar, ninguém pode sair – exceto estrangeiros retirados pelo seu país, como o próprio Brasil fez”, explica.
Assim como a saída, a entrada em Shanghai é monitorada. “Se você veio da cidade de Urra, província de Hubei, você tem que ficar dentro do apartamento, com um policial na sua porta, vigiando. Se você desobedece, pode ser preso. É interessante, também, saber que aqui na China há pena de morte e que as leis são, de fato, aplicadas. Então, as pessoas obedecem”, explica. A orientação dos médicos é permanecer em casa e buscar sempre manter o equilíbrio: “Quando se está em equilíbrio, você mantém sua imunidade alta. Para isso, conversamos bastante, assistimos a bons filmes, sorrimos, nos alimentamos bem e trabalhamos. A tecnologia nos permite o home office e nada para”, argumenta.
Presidente de uma das empresas do grupo Serpa, que atua no Brasil, China e Estados Unidos, Tânia Reis tem acompanhado de perto o impacto da epidemia na economia do país, que está atrelada a negócios em todo o mundo. “Agora é que as indústrias estão retornando lentamente, totalmente monitoradas. Na Serpa, dispensamos a equipe para trabalhar home office (em casa), que é a nossa forma de contribuir para evitar a proliferação desse vírus. A China é uma nação poderosa, e embora a magnitude da situação, com a produção praticamente toda parada, não se fala em economia. Sabemos do impacto disso no mundo, mas o governo só fala em vida e esse respeito com o povo é muito bacana”, conta.
Mesmo com sinais de que o momento mais difícil está passando, a empresária não tem uma previsão de retorno para o Brasil. Sua passagem de volta, inicialmente marcada para 18 de fevereiro, foi cancelada. “A Emirates, companhia responsável pelo meu voo, cancelou a rota para Shanghai e disse que só voltará a operar para esse destino em novembro, mas não acredito nisso, porque os números são bem positivos. Praticamente 2 mil pessoas são curadas por dia e o número de infectados vem caindo”, conta. Ainda segundo Tânia, foi aberta a opção de voar para o Brasil saindo de outros lugares, como Pequim e Hong Kong, mas seria necessário chegar a essas cidades de trem bala, o que ainda é arriscado. “É claro que estou ansiosa pelo retorno, porque tenho negócios e família no Brasil, mas acho mais prudente esperar. Enquanto isso, dou notícias por telefone e entrevistas”, explica.
Medo pelo Brasil
Ciente da discrepância em termos de economia, ciência e infraestrutura entre os dois países, Tânia Reis teme os impactos que esse vírus poderia causar ao se espalhar pelo Brasil: “Estou dando essa entrevista na tentativa de conscientizar as pessoas, porque esse vírus não pode chegar no Brasil. Aqui na China, que é uma potência, eles têm muitos recursos, a ponto de construírem dois hospitais em 10 dias. Um com mil leitos e outro com 500 leitos. Então, é um país que, mesmo com todas essas dificuldades de lidar com o invisível, tem recursos para poder criar situações para atender o povo”, alerta.
Tânia Reis concedeu a entrevista ao jornalista Ricardo Alexandre, que, gentilmente, cedeu as gravações para a elaboração desta matéria do Jornal CORREIO.
Você está lendo o maior jornal do Alto Paraopeba e um dos maiores do interior de Minas!
Leia e Assine: (31)3763-5987 | (31)98272-3383
Postado por Redação, no dia 04/03/2020 - 19:11