Um ‘rombo’ de R$1,5 milhão – e que graças a dívidas antigas, descobertas a todo instante, não para de crescer. É com essa realidade que a nova gestão do Hospital São Camilo tem se desdobrado para lidar. Motivos para esse ‘buraco sem fundo’ ainda estão sendo descobertos, mas um deles já foi identificado: renegociações de dívidas (que não foram pagas ou que estão sendo) e empréstimos – um deles, que se estende até 2029 - estariam corroendo os escassos recursos e se transformando em uma bola de neve, que não só comprometeu a saúde financeira, como chegou a colocar em risco a própria continuidade do hospital.
De acordo com o presidente do hospital, Marcus Vinicius do Nascimento, as primeiras ações tiveram como foco organizar a instituição em todos os aspectos: “Nós assumimos o hospital, de fato, a partir 26 de agosto, e o que encontramos foi uma desorganização geral. Os funcionários estavam insatisfeitos com os salários atrasados e com medo do fechamento do hospital. Também havia uma grande pressão por conta das muitas dívidas. Os valores apresentados pela administração anterior já eram de assustar, mas não tivemos uma transição, e quando começamos a olhar as contas, algumas não fechavam. Questionamos a administração anterior, mas ainda ficavam lacunas”, argumenta.
Buraco sem fundo?
De acordo com Marcus Vinicius do Nascimento, a nova administração ainda desconhece a real situação financeira do São Camilo, mas o que foi apurado até o momento aponta para uma dívida superior a R$1,5 milhão. “O hospital tem algumas dívidas que são operacionais, como folha de pagamento, gastos com água, luz, mas o que mais onera o hospital hoje são os refinanciamentos. O hospital vivia de muitos empréstimos, feitos periodicamente. Alguns se estendem até 2029. São dívidas assumidas para pagar FGTS, fornecedores, cheques pré-datados e que impactam demais, especialmente no caso de um hospital que recebe pelo SUS. E a gente não pode deixar de pagar essas dívidas, ou o hospital perde sua certidão negativa, deixando de receber subsídios e de manter convênios. Hoje, só de renegociação para o mês, pagamos algo em torno de R$34 mil”, detalha.
E não pagar essas renegociações sai mais caro, como no caso citado por Marcus Vinicius do Nascimento. “A conta de água do hospital gira em torno de R$4mil, mas se for paga em dia, há um subsídio, que faz cair mais ou menos pela metade. Como a antiga administração deixou de pagar uma renegociação com a Copasa e atrasou a conta por três meses, ela voltou ao seu valor real e a situação ficou mais difícil, porque vamos ter que pagar a conta do mês e as atrasadas, que serão no valor de R$ 4 mil e pouco, ou seja, uma despesa que gira em torno de R$12 mil. Se estivesse cumprindo a negociação, seria a metade”, explica.
Ainda há o caso de dívidas que teriam permanecido abertas, sem qualquer negociação: “O hospital contraiu uma dívida com uma companhia de gás em 2008, se não me engano. Na época, girava em torno de R$ 60 a R$ 80 mil. Como não foi paga, cobraram na Justiça e acabamos de ser comunicados de que havia o risco do valor ser confiscado da caixa do hospital – cerca de R$166 mil. Nossa advogada está tentando fazer uma conciliação amigável”, explica. Esse, inclusive, tem sido um dos caminhos adotados: “Estamos buscando com esses credores negociar dentro da realidade do hospital, porque não queremos propor algo que não vamos conseguir cumprir”, afirma.
Para evitar surpresas, o jeito foi ‘abrir a caixa preta’ do São Camilo. “A gente via que uma conta havia sido paga e queríamos saber de onde veio o dinheiro, mas informações como essa não foram dadas de maneira satisfatória. E para fazer uma gestão transparente, optamos por procurar uma empresa independente. Algumas pessoas da administração, sem onerar o hospital, fizeram o rateio para pagar a auditoria. É ela quem vai nos responder essas questões”, explica. Com a auditoria, a ideia é fazer um levantamento de todas as dívidas para conhecer a real situação do hospital.
Projetos para o futuro
Economizar e gerar receitas são as estratégias traçadas para tirar o São Camilo do vermelho. “O hospital conta com alguns apartamentos bons, com televisor, frigobar etc. Temos outros cinco com esse potencial. Então, nós vamos investir neles para conseguir trazer mais convênios. Também estamos trabalhando para ter uma sala vermelha, que atenda aos casos mais complexos, o que seria mais uma opção para a população. Ainda temos projetos para melhorar a recepção, dando mais comodidade aos pacientes, visitantes e funcionários”, lista. Algumas mudanças já foram feitas: “O arquivo era tão desorganizado que ninguém conseguia entrar. Desocupamos uma dessas salas e transformamos em sala de reunião. Com isso, deixamos de pagar R$1.500 em aluguéis mensais no prédio ao lado”, detalha.
Para fazer o serviço, foi preciso trazer até reforço militar, como conta a Eliete Dias dos Santos Barbosa, que atua como apoio nos setores de faturamento, arquivamento médico e tesouraria: “Já na primeira visita ao hospital percebemos muita desorganização. A parte de faturamento estava meio perdida. Implantamos o 5s. e, para organizar os prontuários antigos, precisamos de vários voluntários, como do Tiro de Guerra e estagiários não remunerados”, pontua.
Informatização
Provedora do hospital, Clarissa Aparecida da Silva Gontijo tem entre suas atribuições buscar verbas e recursos. Ela já trabalha na interlocução com municípios e autoridades, para tentar viabilizar emendas parlamentares, projetos no fórum de ação pecuniária e relação com os municípios. “Temos mantido contato direto e, quando tem alguma possibilidade de verba, a gente redige um projeto, cadastra no sistema, ela é autorizada e chega para ser usada com custeio ou equipamentos, por exemplo”, detalha.
Internamente, ajudou a redistribuir o serviço e informatizar o hospital para melhor controle de internações, consultas ambulatoriais e farmácia – setor que onera o hospital. “Ao dar entrada, o paciente será cadastrado no sistema integrado e terá um código de barras, que registrará todos os dados referentes a ele. Se ele precisar de um medicamento, a enfermeira vai bipar o código de barras dele e o crachá dela, como responsável por aquele medicamento. Assim será dada baixa ao medicamento no estoque. Esse controle também ajuda a saber como está o estoque, lote, validade etc.”, acrescenta.
Tesoureiro do São Camilo, Wagner Moreira vê na modernização uma maneira de agilizar o trabalho, organizar os estoques e gerar economia: “Nossa primeira dificuldade foi organizar o setor com relação ao fluxo de caixa e controle mensal, mas acredito que a auditoria nos dará um norte sobre como as coisas estavam. De nossa parte, nós estamos atualizando os procedimentos. Conseguimos colocar computador na tesouraria e hoje temos um controle muito adequado, que nos permite saber quanto recebemos por cirurgias e doações, por exemplo, separando o que entra do que sai”, pontua. A administração também tem evitado contrair novas dívidas: “Todo ano faziam um empréstimo para pagar o 13°. Estamos aqui há apenas 60 dias, mas já fizemos um leilão que cobrirá essa despesa. O restante do valor será empregado em algo que é muito importante, que a execução do projeto de AVCB”, argumenta.
Arrecadação de verbas
Mesmo com uma gestão mais equilibrada, o hospital ainda continua dependendo da comunidade para recuperar sua saúde financeira. E é nessa parte que atua Nilson Sobrado, membro do Conselho Deliberativo, fazendo uma ponte entre a comunidade e o hospital. “Estamos chamando essa união de empresários, população e todos que querem ajudar o hospital de ‘abraço solidário’. O telefone dos amigos da saúde (3763-8000) vai ficar instalado aqui por um tempo, para receber essas doações. Além disso, estamos fazendo leilões itinerantes nas cidades vizinhas. Ainda haverá a ‘Ajuda entre amigos’, que vai sortear 2 motos, uma bicicleta e uma televisão. Nós fizemos 200 talões e precisamos de voluntários que nos ajudem a vender, oferecendo para seus amigos, parentes. O sorteio será no dia 23 de dezembro no hospital”.
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Postado por Redação, no dia 08/11/2019 - 12:13