Em 12 de outubro, o Brasil celebra sua padroeira, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, cuja devoção teve início ainda em 1717. Na época, sua imagem foi resgatada, partida em dois pedaços, por três pescadores, e se tornou objeto de devoção e fonte de milagres. Mais de três séculos depois, mistérios de fé como esse ainda perecem se repetir, renovando no coração dos católicos uma devoção que não tem fim. Em terras lafaietenses, uma história semelhante uniu gerações de uma família e, assim como aconteceu nas terras paulistas, prepara-se para ser compartilhada. A diferença é que, no nosso caso, a santa veio do céu, e não do rio.
Tudo começou no início da década de 70. De acordo com Maurício Soares, sua família era dona da Transporte Soares, que fazia o comércio de cargas entre Belo Horizonte e Lafaiete, atendendo também a cidades próximas, como Lamim, Rio Espera e outras. Em uma ocasião, um carreteiro chegou ao escritório da empresa, na rua Dr. Campolina, trazendo um caixote grande, de compensado branco, intacto, sem qualquer identificação ou destinatário. Segundo relato do motorista, essa caixote tinha sido recolhido na zona rural da sua cidade, sem qualquer avaria, depois de ter sido lançado de um avião que, possivelmente em pane, tentava se livrar das cargas.
O caixote permaneceu na transportadora por 6 anos, e como ninguém o procurou, José Soares resolveu abri-lo. Para surpresa sua, encontrou ali uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, com parte da cabeça quebrada. A imagem foi levada para sua casa, onde sua esposa, Maria do Carmo de Faria Soares, sempre devota da Santa, fez uma restauração colando a parte danificada da imagem. Assim, ela permaneceu sob a guarda da família Soares Paiva por 49 anos, e muitas graças lhes foram concedidas. Mas após o falecimento do casal, a imagem ficou guardada até 2019 quando, até que, em visita a Lafaiete, o filho Maurício Soares, acompanhado de seu amigo Sebastião Dalla Vedova, fez a doação da imagem, para que ela fosse encaminhada a uma igreja, onde pudesse ter seu altar e conceder mais graças a seus fiéis.
Nas mãos de Paulo Laporte
Foi assim que ela encontrou as habilidosas mãos de Paulo Laporte, artesão lafaietense que possui uma forte ligação com a arte sacra. Autodidata, Laporte não possui formação como restaurador, mas sim, um talento nascido na infância, como um dom divino. Em 45 dias, ele devolveu as cores e formas à imagem, que um dia, coincidentemente, pertenceu à sua ex-professora e grande incentivadora de seu trabalho: “A história começou com a vinda do padre Osni, que trouxe a imagem a pedido do próprio Sebastião Dala Vedova. A ideia seria resgatar essa imagem, que estava um pouco destruída pelo tempo. Ela não tinha as mãos, o manto e corpo estavam estragados até a altura do nariz e a boca parecia ter se dissolvido, talvez por causa da umidade do local onde ela havia sido armazenada”, conta.
O artista buscou inspiração no modelo original, que se encontra em Aparecida do Norte (SP), mas precisou fazer algumas adaptações: “Na original, a capa é de tecido. Então, como essa peça é de gesso, tentei reproduzir os bordados do manto. Comecei pela moldagem das peças quebradas. Primeiro trabalhei com argila e, depois, com gesso pedra. Tudo foi feito com muito carinho, porque se trata de uma peça de grande valor sentimental e que terá um destino muito bonito: será levada para a Capela de Nossa Senhora Aparecida, no bairro Expedicionários (região noroeste). Isso nos mostra que nada é por acaso. É como se, desde o começo, o destino dela devesse ser esse mesmo. Parece que ela estava naquela garagem só esperando a oportunidade de ser vista, restaurada e levada para junto dos fiéis”, afirma,
Ao contemplar o resultado final da peça, de cerca de 1m de altura, Laporte não esconde sua satisfação: “É o tipo de trabalho que a gente termina, mas, se pudesse, ficaria ali, ajustando cada detalhe para apresentar algo melhor. Mas há, sem dúvida, a satisfação de restituir uma peça que, às vezes, tem uma história, um valor sentimental. Acredito que a minha sensação seja a mesma que a sentida pelo artista que restaurou a imagem original, quando foi quebrada”, finaliza.
O destino da imagem
De acordo com o padre Daniel, pároco da igreja de São Sebastião, da qual faz parte a capela de Nossa Senhora Aparecida, a imagem, de grande valor religioso e cultural, será recebida com grande alegria pela paróquia, “primeiro, porque se trata da imagem da Padroeira e Rainha do Brasil; é uma imagem que evoca fraternidade e comunhão de todos os brasileiros na fé e no amor; e isso é muito mais necessário em tempos de polarização da sociedade. A família que doou a imagem confia em nós para cuidar desse patrimônio e possibilita que um número maior de fiéis, através desse belíssimo símbolo de fé, possa entrar em comunhão com Deus”.
A data, inclusive, já foi marcada: será no dia 19 de outubro, na missa das 15h, na Matriz de São Sebastião. Depois da missa, ela sairá em procissão para a Capela de Nossa Senhora Aparecida, no bairro Expedicionários, onde será entronizada.
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Postado por Redação, no dia 11/10/2019 - 15:03