Ela cursou faculdade de Letras na Universidade Federal de Minas Gerais, casou-se, tornou-se professora, educou seus filhos e soltou sua imaginação publicando histórias infantis que encantam pela beleza e emoção. E isso já valeria os nossos aplausos – até se ela não tivesse feito tudo “de olhos fechados”. A história que compartilhamos aqui é uma das mais inspiradoras que já contamos e foi dividida com os assistidos pela Fundação Olhos D’Alma, em Lafaiete. Cega desde a infância e órfã muito cedo, Elizete Lisboa descobriu na literatura o que todos buscamos: “A literatura me ajuda a ser feliz. Gosto de escrever. Gosto de ler e reler bons poetas, principalmente”, revela.
Em sua segunda visita à Fundação Olhos D’Alma, em maio, Elizete Lisboa falou sobre seus livros ‘Madrugada na casa do bruxo’, ‘Benquerer bem amar’, ‘Firirim finfim’, ‘Cadê a monstrinha?’. E, por fim, fez uma contação de histórias do seu livro ‘A bruxa mais velha do mundo’. Todas essas obras têm outra coisa em comum: elas fazem parte do seu projeto ‘Literatura em duas escritas’: “Uso braille desde meus 9 anos de idade. Então, decidi publicar livro de literatura infantil nesse formato duplo, acessível a qualquer leitor. Eu sabia que isso ia enriquecer, ao mesmo tempo, a infância de crianças cegas e de crianças que veem. Braille num livro que é também para criança que enxerga. Isso é necessário. É lúdico e é educação inclusiva”, avalia a escritora.
Na oportunidade, Elizete Lisboa ainda doou livros e alguns materiais didáticos para a Fundação. “São materiais pedagógicos, todos lúdicos, porque eu penso que a gente precisa ensinar braille, mesmo para os adultos, de forma lúdica. Todo mundo, gente grande e criança, aprende melhor e mais rapidamente quando o brincar faz parte do método de ensino. É preciso muito pensar no ensino lúdico do braille, para que esse método possa sobreviver em um tempo de acentuado prestígio do milagre da informática”, afirma.
Superação que inspira
Com uma trajetória inspiradora, que nos convida a rever muitos de nossos conceitos, Elizete Lisboa acredita que não são barreiras nem alegrias no caminho que determinam se seremos felizes ou não. “Aceitar a vida, do jeito maluco que ela é, depende principalmente de nós. Perdi meus pais ainda criança, mas tive sorte. Encontrei outros pais que cuidaram de mim com amor. Por outro lado, penso que a cegueira, quando acontece na infância, vem com mais chance de superação. As crianças são sim mais inteligentes que os adultos. Elas não ficam reclamando da vida; elas lidam com os contratempos com mais facilidade. A criança tem a sabedoria de querer ser feliz”, avalia.
Como foi o encontro?
Na parte da manhã, Elizete Lisboa se apresentou e mostrou um pouco do seu trabalho como contadora de histórias ao lado de sua inseparável parceira Maria Helena “Pitucha”. Falou do seu trabalho em desenvolver materiais pedagógicos para baixa visão e cegos, além das publicações de seus livros, em sua maioria, elaborados com a preocupação de fazer uma interação entre videntes e pessoas com deficiência visual. Depois, respondeu a perguntas, mostrando que o deficiente com o intelectual preservado não apresenta diferenças em desempenhar uma função, especialmente em um tempo em que existem tecnologias inclusivas que dão ao deficiente visual a liberdade de ser independente.
À tarde, houve um bate papo relacionado à desmistificação de que um deficiente visual é incapaz de ser incluído com autonomia e a importância de um deficiente executar funções que cabem a ele. Ressaltou que, atualmente, existem uma multiplicidade de tecnologias assistivas que permitem às pessoas com deficiência visual contornarem suas limitações e ganharem em autonomia. Dessa forma, as capacidades e aptidões aproximam-se das de um indivíduo com visão normal, o que lhes permite assumir um papel ativo, tanto em nível social como profissional, tendo uma integração plena na sociedade. “Acredito que ela tenha deixado a mensagem de que o segredo de um ser humano bem-sucedido – tenha deficiência ou não – é quase sempre o mesmo: não se vitimizar ou limitar-se, mas sim, estudar, dedicar-se, ter iniciativa e esforço pessoal e, além disso, disposição e coragem para mudar, porque as barreiras existem, mas só depende de nós quebrá-las”, detalhou a gerente administrativo da Fundação Olhos D’Alma, Luana Resende.
Para Luana Rezende, a falta de informação e o comodismo estão entre os maiores entraves à integração de pessoas com deficiência visual: “Adotar comportamentos arcaicos, superprotetores e assistencialistas, que impedem o progresso e o crescimento do deficiente visual, limitando sua autonomia ou mesmo o tratando como ‘um coitado e incapaz’ só contribui para a desigualdade. Hoje sabemos que a melhor maneira de mudarmos esta história é a informação e desmistificação que a incapacidade está relacionada à deficiência visual. Mas falta interesse e sobra comodismo entre as pessoas que lidam com esse público. A Fundação Olhos D’ Alma, preocupada com a situação, vem buscando adquirir e promover cada vez mais conhecimento para mudar esta realidade. Nosso maior desafio, atualmente, é o projeto de ampliação das atuais instalações que se tornaram insuficientes para a demanda limitando as ações pedagógicas e sociais junto aos usuários”.
Sobre a Fundação Olhos D’Alma
Localizada no bairro Expedicionários, a fundação Olhos D’Alma atende, hoje, 124 pessoas frequentes, residentes em 22 municípios mineiros, oferecendo uma gama de serviços que visam à saúde e inclusão dos portadores de deficiência visual.
Como ajudar?
lDoação via conta de luz (Cemig);
lDepósitos na conta da Fundação Olhos d’ Alma: Banco Bradesco. Agência 1392-7 - Conta Corrente: 016604-9.
lTelemarketing.
lMais informações: (31) 3761-7707
Serviço
Elizete Lisboa
E-mail: [email protected]
Fundação Olhos D’Alma
Endereço: rua Diácono Edmo
Videira, 110, Expedicionários.
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Postado por Redação, no dia 01/08/2019 - 10:15