Na última matéria da série sobre Meio Ambiente, publicada pelo Jornal CORREIO, não vamos falar de lixo, poluição ou crime ambiental. Para fechar as análises feitas pelo ambientalista Ricardo da Rocha Vieira, revelaremos um tesouro desconhecido por muitos: a Mata da Meia Lua. Localizada entre os bairros Paulo VI, Amaro Ribeiro e Topázio, estendendo-se até a estrada que liga ao distrito de São Gonçalo, ela tem cerca de 300 hectares – o equivalente a 400 campos de futebol – e é habitat de inúmeras espécies da fauna de flora.
O maior patrimônio ambiental da cidade possui cobertura de Mata Atlântica, tomada por Floresta Estacional Semidecidual, em estágios de regeneração variando de médio para avançado. “Ela forma um importante corredor ecológico de floresta primária, que permite o fluxo gênico de espécies animais e vegetais, garantindo abrigo, alimento e oferecendo as condições ideais de sobrevivência para as inúmeras espécies ali existentes”, explica.
Considerada uma floresta primária ou mata virgem, não sofreu alterações significativas em suas características originais pela ação do homem. “Nela, encontramos uma grande diversidade de árvores grossas e altas, com equilíbrio entre as espécies pioneiras e secundárias, além de grande diversidade de orquídeas, bromélias e cactos, nas árvores. Nesse tipo de floresta, com a da Mata da Meia Lua, são facilmente encontradas espécies arbóreas de médio a grande porte, como canela, cedro, sapucaia, imbuia, jatobás, pau-ferro, ipês, quaresmeira, jequitibá, copaíba, peroba, angico, entre outras importantes espécies vegetais”, acrescenta o ambientalista.
Esse pequeno oásis natural é o lar de inúmeras espécies animais, com grande diversidade de primatas, répteis, felinos de pequeno porte (jaguatirica, gato do mato), além de mamíferos em geral. Rica em recursos hídricos, a mata da Meia Lua tem inúmeras nascentes que vertem suas águas para a área urbana, alimentando alguns córregos que atravessam certos bairros da cidade, como Amaro Ribeiro, Paulo VI, Carijós, São Dimas e Barreira. “Guardadas as devidas proporções, a Mata da meia Lua está para Lafaiete, assim com a Floresta da Tijuca está para a cidade do Rio de Janeiro, em termos de função ecológica, como abrigo da fauna e da flora, produtora de água, fábrica de oxigênio, proteção do solo, entre outras funções importantes”, ressalta Ricardo da Rocha Vieira.
Mas esse santuário não está assim tão protegido da ação do homem. Ao contrário da floresta da Tijuca, que é uma área de domínio público, a mata da Meia Lua tem todo o seu território na mão de particulares, compondo área de imóveis rurais no entorno da cidade. “Uma observação mais atenta em qualquer software de imagens por satélites demonstra que a mata da Meia Lua, apesar de toda a área ainda preservada, perdeu parte de sua cobertura vegetal ao longo do tempo. Ela foi substituída por pastagens e até pela especulação imobiliária. A implantação do bairro Topázio, tempo atrás, cortou a ligação e isolou uma remanescente de mata, com área de aproximadamente 70.000 m² ou sete hectares, interrompendo parte do corredor ecológico formado pelas outras áreas interligadas pela vegetação”, alerta.
O próprio Parque Florestal “Eurico Figueiredo”, hoje administrado pela Associação Regional de Proteção Ambiental (Arpa), é formado por outro remanescente da mata da Meia Lua que foi isolado da mata original pela implantação de área de pastagem em um terreno limítrofe. Com área de 27 hectares (aproximadamente 35 campos de futebol), o parque tem o mesmo tipo de formação florestal da mata da Meia Lua. “Uma visita ao local permite uma avaliação da importância de todo esse patrimônio ambiental que Lafaiete possui, que a maioria desconhece e que tem influência direta na nossa qualidade de vida”, explica. Apesar de estarem separados da área contínua de mata, tanto o Parque Florestal, quanto a área isolada no bairro Topázio, além de outros remanescentes do entorno, compõem o complexo da mata da Meia Lua.
Essa riqueza ambiental de Lafaiete é tão desconhecida que não há nenhum registro técnico ou científico sobre a sua diversidade em flora e fauna. As informações de tamanhos de áreas citadas nesta reportagem foram levantadas com base em softwares de imagens por satélites. “O Jornal CORREIO vem desenvolvendo um projeto para explorar toda essa riqueza ambiental que Lafaiete possui e, em breve, trará novas reportagens sobre a Mata da Meia Lua, para maior conhecimento da população”, adianta.
Verde que resiste ao concreto
Pelas ruas da cidade também é possível sentir como a presença do verde faz diferença na nossa vida. Afinal, ninguém em sã consciência poderia imaginar uma cidade formada somente por edificações, ruas e avenidas, veículos e pessoas, sem a presença do verde, integrando e interagindo com o ambiente. Em Lafaiete, a arborização urbana é bem concentrada em algumas vias e praças, mas na grande maioria das ruas não se vê uma árvore plantada. E as razões para isso vão da falta de espaço adequado, como canteiros centrais e presença de redes de energia à largura das calçadas que, em muitos casos, são estreitas.
As avenidas Telésforo Cândido de Resende, Professor Manoel Martins e Furtado, além de praças São Sebastião, Tiradentes e Barão de Queluz são exemplos de espaços onde o verde e o concreto coexistem. Na área central, entre a avenida Telésforo Cândido de Resende e o bairro Campo Alegre, há uma área significativa com cobertura vegetal de árvores nativas (entre elas, pau jacaré, quaresmeiras, ipês amarelos e algumas plantadas, como eucalipto) que exercem importantes funções ecológicas, amenizando o clima, compondo a paisagem e, principalmente, servindo de mecanismo natural de estabilização do solo.
“Ela inibe a formação de enxurradas superficiais, considerando que o local é uma área com alta declividade. Essa área verde, espremida entre o alto do bairro Campo Alegre e a avenida Telésforo Cândido de Resende, possui uma área equivalente a 15.000 m², que equivalem a quase ao tamanho de dois campos de futebol”, compara. Mas em outras importantes ruas da cidade não se vê a presença de arborização, como a Melo Viana, Afonso Pena, Benjamim Constant, Duque de Caxias, Barão de Suassuí, Arthur Bernardes, entre outras.
Entre o Queluz e o Triângulo
Em Lafaiete, outra importante área verde urbana está localizada entre os bairros Queluz e Triângulo. Ela é formada por um remanescente de Mata Atlântica em avançado estágio de regeneração e ocupa uma área contínua de aproximadamente 50.000 m². “Nessa pequena floresta urbana, que tem área equivalente a sete campos de futebol, encontram-se inúmeras espécies de árvores do bioma Mata Atlântica, além de uma variedade de espécies animais com grande diversidade em avifauna, além saguis (mico estrela) e macacos bugios, que são primatas de porte mais avantajado”, revela Ricardo da Rocha Vieira.
Apesar de ter sobrevivido ao desenvolvimento da cidade, imagens aéreas mostram que a ocupação humana alterou parte de sua área, trocando a formação florestal por residências. E a ameaça ainda persiste, pois há intenção de ocupação de parte da área pela especulação imobiliária. Mas é possível frear a destruição desses santuários ambientais: “Como se não bastassem as limitações impostas por leis federais e estaduais, o poder público municipal tem mecanismos legais para barrar a alteração do uso do solo no local, considerando a grande função ecológica que a área exerce para a qualidade de vida, além da estabilização do solo, pois a maioria do terreno possui grande declividade”, pontua.
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Postado por Redação, no dia 20/06/2019 - 10:23