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Comunidade


Sem aprender com a seca de 2014, Lafaiete não investe em novas captações de água

Copasa capta 714.030 m³ de água por mês para atender a mais de 56 unidades consumidoras; poluição, agricultura e especulação imobiliária são desafios




Você ainda deve se lembrar de 2014: a cidade passou pela maior seca de sua história. Vários bairros da cidade ficaram desabastecidos por dias e só a volta das chuvas, semanas depois do início desse tormento, conseguiu fazer com a situação voltasse à sua normalidade. Na época, as pessoas passaram a rever seus hábitos e o desperdício começou a ser condenado com veemência. Cinco anos depois, parece que voltamos à estaca 0. Sem novos episódios como esse, as pessoas voltaram a consumir de maneira desregrada, não houve nenhum investimento em novas captações e apenas a vontade dos céus tem defendido a cidade de uma nova seca. Mas, afinal, qual é a situação da água em Lafaiete? É isso que a reportagem especial desta semana vai discutir.
Para fornecer água a cerca de 56 mil unidades consumidoras em Lafaiete, a Copasa capta, diariamente, 23.801 m³/dia, representando um volume médio mensal de 714.030 m³/mês. Desse montante, 70% são obtidos a partir do manancial Almeidas (Água Preta). Os demais 30% vêm da união dos mananciais Bananeiras e Jacuba. “Os cursos d’água das bacias Bananeiras (que tem o Jacuba como seu afluente) e Almeidas são de classe 2, ou seja, possuem um índice de qualidade da água superficial adequado para o abastecimento humano. Para garantir essa qualidade, é realizado o monitoramento da água bruta, em conformidade com os parâmetros de potabilidade estabelecidos na Portaria de Consolidação PRC - Nº 5 de 28/09/2017, no anexo XX”, detalha a empresa.

Fragilidades de cada manancial

Mas a existência de três mananciais não implica, necessariamente, em abundância de água. Muito pelo contrário. O manancial da Água Preta, próximo ao Rancho Novo, capta as águas drenadas da região dos Almeidas, sentido Rio Ventura Luiz. “Ele convive com a atividade agrícola em grande parte do seu entorno, exigindo um constante monitoramento da qualidade da água, considerando o uso de defensivos agrícolas, além da movimentação de terra para o plantio, que pode ocasionar assoreamento de corpos hídricos, entre outros problemas, se não forem observadas medidas de proteção”, alerta Ricardo Rocha Vieira, ambientalista. Formado pelo Córrego do Barroso, um subafluente do Bananeiras, o manancial da Jacuba soma os problemas ligados às atividades agrícolas e assoreamento à especulação imobiliária, descarte clandestino de lixo e queimadas em seu entorno.
Na classificação da Copasa, ele integra o manancial Bananeiras, que é aquele que escancara seus problemas de maneira ainda mais evidente. “O manancial Bananeiras enfrenta problemas ligados à ocupação do solo em seu entorno, o lançamento de esgoto sanitário pela comunidade de Buarque de Macedo, além da especulação imobiliária. A situação é tão séria que a comunidade de Buarque de Macedo, que se encontra bem na cabeceira, consome água de poço, bombeada do lençol freático, pois lá não existe tratamento de água. A lista de problemas inclui a ocupação desordenada de suas margens, contaminação por lixo, esgoto sanitário, além do assoreamento e do mato, que invade o leito do rio”, lista Ricardo Rocha.
Até chegar ao ponto onde é captado, pouco acima do parque de Exposições, o Bananeiras atravessa Buarque de Macedo e vai recebendo outras águas de contribuição, inclusive a sobra não captada no Manancial da Jacuba. “A água captada já possui contaminação por esgoto sanitário desde Buarque de Macedo, o que altera sua qualidade e exige da Copasa um esforço maior para tratá-la e distribuí-la dentro dos padrões de qualidade legalmente exigidos. “E isso encarece os custos de tratamento, que são repassados a todos os consumidores. Quanto mais limpa for a água captada, menor será o custo de tratamento. Águas com qualidade baixa requerem maior custo de tratamento para posterior consumo humano”, acrescenta o ambientalista.
Outra ameaça constante ao Bananeiras é o Distrito Industrial, que foi instalado antes da captação. “Não há redes de esgotamento sanitário para as empresas ali instaladas. Há pouco tempo, uma alteração negativa nos padrões da água obrigou a Copasa a interromper a captação no local. Investigações identificaram a empresa fonte de poluição, que fazia descartes clandestinos de um efluente líquido no córrego do Distrito Industrial, que desaguava e levava o poluente à captação do Bananeiras. O fato gerou Inquérito Civil Público na Curadoria do Meio Ambiente, da 5ª Promotoria de Justiça, e foram tomadas as medidas legais cabíveis contra o agente poluidor”, lista.

Recurso limitado

O manancial da Jacuba foi inaugurado em 1962, para abastecer uma Lafaiete quatro vezes menor do que é hoje. Quase seis décadas depois, a população quadriplicou, a demanda aumentou e não houve investimentos para implantação de novos pontos de captação ou criação de áreas de armazenamento do volume excedente, durante o período chuvoso. “Também faltam reservatórios, principalmente na bacia do Bananeiras, que depende exclusivamente da água drenada pela calha do rio, considerando que a Jacuba tem uma baixa capacidade de armazenamento. Com isso, o excesso de águas pluviais no período chuvoso, que poderia ser armazenado para o período mais seco, é drenado pela calha do rio, sem ser aproveitado”, afirma Ricardo Rocha Vieira.
O resultado de tudo isso ficou evidente em 2014, durante a maior seca da história recente de Lafaiete. Na captação do Bananeiras, que em situação normal já fornece água em seu limite, a pouca água que chegava era totalmente direcionada para tratamento e distribuição, impedindo o fluxo natural de água para o leito do rio abaixo da captação. No Manancial da Jacuba, a estiagem deixou a mostra áreas antes inundadas, diminuindo o espelho d’água e o nível do reservatório. Com o baixo volume, a água não che­gava à caixa de captação, obrigando a Copasa a instalar bomba para captar o chamado volume morto, expondo a fragilidade de todo o manancial, numa estiagem mais prolongada. No Manancial da Água Preta, a empresa instalou um segundo ponto de captação, reaproveitando parte daquilo que so­brava da primeira captação, para tentar equilibrar o balanço hídrico: captação/tratamento/distribuição.

Pró-mananciais

Entre as ações positivas está o Programa Pró-Mananciais, desenvolvido pela Copasa e vários parceiros. A iniciativa foi implantada na microbacia do Ribeirão Almeidas, que possui 99 km de extensão, abrangendo áreas em diferentes municípios limítrofes. Visa a proteger e a recuperar as microbacias hidrográficas e as áreas de recarga dos aquíferos, por meio de ações e estabelecimento de parcerias, que visem a melhoria da qualidade e quantidade das águas, favorecendo a sustentabilidade ambiental, econômica e social. O Pró-Mananciais exigiu reuniões com todos os envolvidos, visitas às propriedades rurais, medições de áreas e fiscalizações de cercamento e plantio, eventos em escolas e ações de educação ambiental. Desde sua implantação e, Lafaiete, em 2017, realizou diversas ações na microbacia do Ribeirão Almeidas, com 38.500 m de cercamentos e plantio de 14.050 mudas nativas, com investimento na ordem de R$ 609.926,33.

Proteção da lei

Para que a situação não se torne ainda mais grave, é possível apelar para os instrumentos legais. O Plano Diretor, Lei de Uso e Ocupação do Solo e Lei de Parcelamento do Solo trazem dispositivos legais que poderiam garantir a preservação e o monitoramento de atividades em todas as bacias dos mananciais de abastecimento - principalmente, no Bananeiras, onde a especulação imobiliária já é uma ameaça iminente. Porém, é preciso que o município crie dispositivos legais, com regras mais claras sobre aquilo que é compatível ou não com a vocação de cada área, garantindo a vocação e a função ambiental da bacia, à montante dos pontos de captação. “Considerando se tratar de garantir oferta de água em qualidade e quantidade à população, o interesse público deve sempre prevalecer sobre o interesse privado”, frisa o ambientalista.

Classificação legal das águas

A - Classe especial: é o tipo de água mais limpa existente na natureza e serve ao abastecimento para consumo humano com simples desinfecção;
B - Classe 1: possui boa qualidade e serve ao abastecimento para consumo humano após tratamento simplificado;
C - Classe 2: servem ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;
D - Classe 3: servem ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado;
E - Classe 4: não podem ser destinadas para o consumo humano, servindo apenas para a navegação e à composição paisagística.




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Postado por Redação, no dia 04/06/2019 - 11:10


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