Seus alunos estão indisciplinados. Você já não consegue mais prender a atenção deles. Já não sabe o que fazer? Então, é hora de pedir ajuda. Por mais que os professores falem que trabalham em equipe nas escolas, o que vemos é um forte individualismo, provocado pela lógica do sistema de ensino, que leva tanto professores, quanto alunos, a grandes frustrações. Já passou da hora de parar com o mito do herói isolado. Essa ideia de que alguém vai resolver os problemas da escola para nós. E que, enquanto isso não ocorre, temos de encarar a situação individualmente. Com isso, os professores estão cada um no seu canto, chorando o seu tanto, angustiados e perdidos, sem autoridade e sem saber o que fazer, para conseguir mudar o ambiente escolar que tem sido o inferno para muita gente. E o que mais assusta é saber que a dor que está levando alunos e professores a terem surtos danosos é vivida por muitos como uma dor natural e necessária. É o ?no pain, no gain" que nos leva a crer que sem dor, não há ganho. Merecimento só com sofrimento.
O sofrimento como um valor ficou fortemente inculcado em nossa cultura e tem impactos na rotina escolar. Muitos professores acreditam que precisam sofrer para merecerem o mísero salário e, por que não, o céu. Com isso, cada um vai suportando a dor própria, na solidão do seu trabalho fechado em sala de aula e isolado dos demais colegas. Isso é avassalador na vida das pessoas e para o docente. A ideia de que o professor precisa dar tudo de si tem justificado a exploração dele e a angústia profissional. É como se precisassem da indisciplina dos alunos para merecerem o que recebem como profissionais.
Com o aluno as coisas são quase da mesma forma. Eles detestam as aulas de cinquenta minutos com a voz monótona de muitos professores, mas, no fundo, a maioria aceita essa condição como algo necessário para merecerem o diploma e um lugar ao sol na sociedade. Esse princípio pessimista da dor e do sofrimento como meios indispensáveis para o merecimento é um legado muito cruel que herdamos. Esse mal estar de professores e alunos só pode resultar em indisciplina. Muitos professores se tornaram indisciplinados, fazendo o mínimo. Alegam não ganham para fazer mais do que fazem. Muitos faltam às aulas e não justificam suas ausências aos seus superiores. Há os que chegam atrasados, ficam na sala de aula, "morcegando", acomodados no individualismo que o próprio sistema gera e os protege, reclamam, mas não fazem nada para melhorar a realidade.
Essas referências negativas dão muitas razões aos alunos de não respeitarem seus mestres e de continuarem a olhar seu celular enquanto eles falam. Assim, agridem os adultos ou outros colegas com a violência física ou verbal, sem nenhum escrúpulo. Querem sair a todo instante de sala. Não leem nada e não fazem as atividades marcadas pelos professores. Esse mosaico de situações tem produzido a indisciplina de professores e alunos nas escolas. O que menos vemos nas escolas é professor e aluno estudando. Os dois lados tem sofrido tremendamente com o que plantam todos os dias, nas relações pedagógicas estranhas, numa cumplicidade totalmente deformadora para todos.
Só que, em determinado momento, o corpo não aguenta tamanha indisciplina e aparecem as doenças. É assustador ver a quantidade de adultos e adolescentes cheios de problemas e surtos no local onde deveriam estar resolvendo os desafios que a vida já nos impõem de antemão. A falta de disciplina e compromisso tem adoecido alunos e professores e está provocando o sofrimento de muita gente. Será que é possível construir uma escola com compromisso com a aprendizagem e ambiente prazeroso, com pessoas menos doentes e mais realizadas? É sim!
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 09/05/2016