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Pesca


Conheça a história do maior peixe capturado pela Turma dos ?O Quêêê?



Luiz Flávio Vilela
Fundador da Turma dos “O Quêêê”

 

A aventura se dá em junho de 2006, no famoso Rancho Xingu, que na verdade fica à beira do rio Kuluene, um dos afluentes do Xinguzão. Na oportunidade, viajamos num micro-ônibus junto com os companheiros Alexandre (Josie), José do Carmo, Hélio Ciríaco, Benito Laporte, José Maria, Chumbinho (motorista), Almir, eu, Luiz Flávio, Flávio Júnior, Mauro Topógrafo e Nilton (dono do micro-ônibus). O veículo foi modificado para que coubessem os companheiros, toda a tralha e ainda espaço para os prováveis peixes que seriam pescados. Nessa ainda era possível, pela lei, trazer uma quantidade de peixes e um troféu para cada pescador, quantidade essa estipulada pelo estado de origem da pesca, no caso Mato Grosso.


Saímos de Lafaiete e fizemos um pernoite em Nova Ponte, e em seguida tomamos o rumo da região central do Mato Grosso, na cidade de Canarana, onde passam dois afluentes do rio Xingu, o Sete de Setembro e o Kuluene. Chegamos à noitinha; dormimos em Canarana e, pela manhã do dia seguinte, nossa tralha foi de caminhão para o Rancho Xingu e nós, pescadores, fomos de avião monomotor do Gilson. A viagem foi tranquila, de 25 minutos, e aterrisamos às margens do Kuluene, que junto com o Sete de Setembro, formam o famoso Xingu. Nesse local de pesca, região central do nosso Brasil, é que vivem os índios do Alto Xingu, das etnias Kalapalo, Kamaiurá, Kaiabi, Kuikuro e outras. A pescaria transcorria normalmente com várias ações e espécies sendo capturadas como: cacharas, matrinxãs, pacus, cachorras, mandubés, trairôes da amazônia, até que no penúltimo dia de pesca, aconteceu a história que segue abaixo, escrita por nosso companheiro José do Carmo Guilherme.


Contar como foi a emoção na captura do Jaú de 73Kg e 1,65m de comprimento é necessário voltar um dia antes, porque acredito que foi quando tudo começou.....Um dia antes do inesquecível dia, tentávamos de toda forma, eu, Hélio e o piloteiro Douglas pegar matrinxãs para utilizarmos como isca branca no dia seguinte e não conseguimos pegar nada. Então, esperamos escurecer e fomos capturar curimatãs nas praias do rio Kuluene, e para nosso espanto, não obtivemos sucesso. Indignado por não ter conseguido pegar nenhuma curimatã, o Douglas nos deixou no rancho e ao descer do barco nos disse: “Vou voltar lá e pegar algumas Curimatãs, podem estar certos disso”.


E realmente ele conseguiu, após várias tentativas. Antes de dormir, acertamos que iríamos sair bem cedinho, direto para o poço conhecido como Sayonara, porque sentíamos que alguma coisa estava reservada para aquele fatídico dia. Levantamos bem cedinho, ainda estava escuro, e partimos para o Sayonara e sem nenhuma escala. A chegada foi deslumbrante. Imaginem vocês, todo aquele “poção” só por nossa conta. O Douglas, antes de parar o barco, olhava para a água e deixou por alguns instantes a correnteza nos levar. Parecia que ele sabia o ponto exato da “fatídica fisgada”. Tentamos vários arremessos e nada. Por algum instante, tudo ficava tão silencioso que assustava. De repente, duas varas se curvaram, uma minha e a outra do Hélio, e a fisgada veio imediatamente, era um dublê, uma “arraia e um peixe elétrico, de 1,20m”.


O riso foi inevitável e a gozação também. Mas não desanimamos e voltamos a arremessar novamente. Tudo voltou a ficar silencioso e já estávamos relaxados dentro do barco quando a vara do meu molinete inclinou-se de forma assustadora, quando imediatamente dei várias fisgadas e só então pude sentir o peso. Logo em seguida, o Douglas soltou a poita e ficamos à deriva. Éramos arrastados dentro do poço de acordo com a vontade do peixe, e a fricção do molinete zoava sem parar e eu, com dificuldades para manter a vara fora da água. Passaram-se longos minutos e nada do peixe parar de brigar. Eu tomava alguns metros de linha e ele quase sempre me tomava o dobro. Naquele instante sentimos que se tratava de um peixe grande.


Já passados uns 20 minutos de briga, quando o peixe veio à tona e em seguida voltou direto para o fundo; a força era tanta que comecei a sentir câimbra nos braços e mãos, e veio o inesperado: o peixe parou de puxar e eu também não conseguia rebocá-lo. A constatação foi imediata: “ele estava enlocado”. Se ele continuasse parado daquele jeito corríamos o risco de perdê-lo porque a linha ficaria atritando nas pedras e arrebentaria. Imediatamente o Douglas ligou o motor, levantou a rabeta, deixando parte da hélice dentro e parte fora d’água, e acelerou o motor até o talo; o barulho foi tanto, que após alguns segundos, ele saiu da loca e recomeçou a luta. Ficamos eufóricos e aí já não estava sentindo mais nada nos braços e mãos. Minha mente parou e só sentia a adrenalina do momento. Após longos 30 minutos de briga, ele veio à tona novamente e aí conseguimos ver o tamanho do peixe. Nesse instante tivemos uma mistura de medo e apreensão, medo do tamanho do peixe e apreensão de perdê-lo, pois não estávamos preparados para tal façanha.


Eu tinha na mão um conjunto de molinete marine sports XT6000, linha monofilamento 0,60mm e vara fibra de vidro 40 libras, muito aquém da batalha e nem bicheiro tínhamos no barco. Foram mais 10 minutos de briga até sua rendição e aí veio o espanto, ele estava fisgado sem que o anzol tivesse introduzido a fisga na parte superior da boca, ou seja, durante toda a briga se houvesse alivio de pressão na linha ele se soltaria. No final da luta, passamos a ter companhia de mais um barco e foi a nossa salvação. O Douglas perguntou se eles tinham bicheiro e que se aproximassem para nos ajudar. O jaú já estava exausto e encostado na lateral do barco. O Douglas passou o bicheiro no Jaú e seguidamente o anzol se soltou da boca do peixe. Imediatamente, ele pediu para o piloteiro do outro barco passar para o nosso barco e amarrasse uma corda na cauda do Jaú. Com ele imobilizado, já que estava fisgado pelo bicheiro e amarrado pela corda, sentimos que a briga estava ganha.


Mas ainda faltava uma etapa que era embarcar o jaú. Para nosso espanto foi até certo ponto fácil, bastou fazer um movimento de subida e coordenado entre o bicheiro e a corda. Nesse instante, éramos quatro pessoas concentradas na parte da frente do barco e tivemos um susto quando ele foi içado, pois ele saiu raspando na lateral do barco que deu uma ligeira tombada. Foi aí que eu e meus amigos extravasamos nossa alegria. Meu coração batia acelerado, a tremedeira era incontrolável e meu rosto era só sorriso. Naquele instante, passou em minha cabeça todas as pescarias e tentativas que na minha vida havia feito para capturar um peixe de grande porte, mas não esperava que fosse tanto. Voltando para o local que se encontrava a poita, reiniciamos a pesca novamente, mas já sem nenhuma concentração, tamanha a alegria que imperava. E eis que se aproximava de nós o barco do Luiz Flávio. Eles ficaram assustados com o jaú.


Tomamos a decisão de encerrar nossa pescaria por ali mesmo e fomos para o rancho. No meio do caminho, a emoção falou mais forte e algumas lágrimas escorreram dos meus olhos. Ao chegar no rancho, todos já estavam a nossa espera para a sessão de fotos, ficando espantados com o “peixão” que havíamos capturado.


Devido à história contada acima, acreditamos que o nosso companheiro José do Carmo é o detentor do recorde de todas as pescarias da nossa turma. Na volta da pescaria, o proprietário e piloto do avião Gilson, que sempre nos levava ao rancho, ofereceu uma carona para três companheiros até Goiânia, pois coincidiu de ter que levar um paciente que iria internar na capital de Goiás, pois era a cidade mais perto que tinha voo comercial para todo o Brasil. Nessa carona de avião foram Alexandre, Benito e José Maria. Acabou sendo a nossa salvação, pois tivemos que fazer nova adaptação no micro-ônibus para caber a caixa de isopor com o o peixão do José do Carmo, pois o mesmo teria que viajar inteiro, não podendo cortar cabeça ou separá-lo, por determinação do IBAMA. Depois de sair de de Canarana, pernoitamos na cidade de Jataí, no hotel da Tia Fuchico e chegamos em Lafaiete após dois dias de viagem.

 



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Escrito por Pesca, no dia 16/07/2020




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