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Pesca


Agonia do São Francisco: a pesca com os dias contados



Pois é, pessoal. Mais uma vez, vou abordar o assunto sobre um rio que, apesar de sua grandeza e seu gigantesco e “certeiro” potencial para pesca esportiva, tem o enorme azar de figurar no grupo dos rios mais degradados do Brasil e, com certeza, o mais “humilhado” pela maioria dos pescadores brasileiros. Falo de um rio que sofre com as secas no sudeste e que, há algum tempo, tem se discutido, inclusive, sua verdadeira nascente. Que é destratado não só pelos governantes, mas, também, pela maioria dos pescadores brasileiros, que não conseguem entender seu valor e sua verdadeira capacidade.

Tive a sorte grande de conhecer este rio há 37 anos, quando meu querido tio Octávio Pyramo me levou, pela primeira vez, para ter contato com este magnífico manancial. Fomos ao seu rancho, na chamada Cachoeira Grande, uma linda corredeira situada logo abaixo da “graminha”, que nos proporcionava uma variedade grande de peixes em toda sua extensão.

Nessa época, o Velho Chico já não gozava de sua melhor fase, principalmente em função das fábricas localizadas em seu curso, que despejavam produtos químicos nas suas águas, promovendo matança de muitos exemplares. Mesmo assim, era normal que, em uma pescaria de quatro ou cinco dias, você se deparasse com dourados e surubins, e ainda muitas ações na chamada pescaria de ceva, principalmente piaus, matrinxãs e mandis. Ainda nos reservava surpresas agradáveis como caranhas, piranhas, traíras e pirás, que hoje, praticamente, não são mais encontradas no rio.

Naquela época, não pescávamos curimbas. E havia muitas, viu? Hoje, além da seca que assola o curso do São Francisco, é assombroso presenciar um rio tão judiado, frequentado assiduamente por pescadores inescrupulosos que saem com caixas cheias de peixes - a maioria fora de medida. Isso sem falar nos tarrafeiros e pescadores de rede que não podem ver o rio Abaeté sujar um pouco para promoverem uma autêntica matança de dourados e pirás no encontro dos dois rios. E é mais lamentável que isso aconteça nas barbas da fiscalização, totalmente ineficiente, tanto em pessoal quanto em equipamentos.

A introdução do tucunaré azul na represa de Três Marias amenizou um pouco o problema de ausência de peixes, principalmente em função da rápida adaptação desse peixe ao seu novo habitat. Mesmo assim, a atuação é ferrenha dos pescadores profissionais que, com suas redes, capturam muito mais peixes que a capacidade dos mesmos de se produzir. O que surpreende, ao longo desse rio, seja em seu leito ou em área represada, as espécies, tanto de dourados como de tucunarés, têm um crescimento avantajado.

O que impressiona demais é notar que vários proprietários de ranchos e pousadas continuam dando “tiro no pé”, promovendo grandes matanças, não percebendo que, além da desvalorização local, estão acabando sim, com toda certeza, com a “galinha dos ovos de ouro”.  Se esse rio fosse devidamente protegido e preservado como merece, alcançaria, com certeza, recordes de capturas, tanto de dourados como de tucunarés, e, com isso, proporcionaria uma revolução na pesca esportiva brasileira e na economia da região. 

Infelizmente, aqui em Minas Gerias, a pesca esportiva é pouco difundida e até mal vista pelos pescadores mais antigos. Já cansei de ouvir de pescadores “matadores” que é um absurdo ir pescar e soltar o peixe. O pior é que não é apenas entre os mais velhos que reina este pensamento. Já ouvi de muitas pessoas mais jovens esta mesma opinião. Outro dia, estava pescando apoitado a dois metros do barranco quando chegou um pescador dito “profissional”, daqueles de rede de arrasto, daqueles que olham onde cevamos de dia para jogarem suas tarrafas à noite, e foi puxando conversa: Perguntou ‘de onde eu era’. ‘Se estava pegando peixe’. Comentei que ‘estava complicado’; ‘muito ruim de peixe’. Ele disse que ‘estava mesmo’, que ‘há dois anos não saía mais peixe’. Que ‘antes era uma fartura, mas que hoje em dia estava ficando muito difícil’.

E o mais interessante é que ele afirmou, com todas as letras, que o peixe vai acabar mesmo. Disse numa tranquilidade tão grande que fiquei até sem palavras na hora. Eles têm consciência de que estão acabando com tudo. Mesmo assim, continuam a tirar tudo o que podem do rio. Se eles têm esse pensamento, não vejo saída para esse rio, por mais triste que possa parecer, a não ser que a intervenção venha de cima com proibição e acompanhamento de perto da Polícia Ambiental. Sei que nada que foi dito é novidade para a maioria, sei também que vários amigos frequentam o rio São Francisco, bem como a represa de Três Marias, e pratica a pesca esportiva e de maneira consciente, mas fica a indignação e o desabafo de mais um pescador esportivo que, a cada dia que passa, apesar de navegar e lançar suas iscas também em águas “próximas”, precisa viajar cada vez mais longe pra realizar uma pescaria decente (tratando-se de bons exemplares).

Sou totalmente contra a depredação irracional do sistema ecológico. A indignação é uma forma de manifestar nossa revolta, embora pouco possa produzir como resultado desejado, pelo menos no nosso país. Mesmo viajando a outros pontos de pesca por esse Brasil e até na América do Sul, tenho sempre o imenso prazer de retornar ao Velho Chico, o qual continuarei frequentando e torcendo por mudanças drásticas na política de pesca no querido rio.



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Escrito por Pesca, no dia 14/09/2015




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