Exatamente o ensino médio, a etapa mais complexa da vida escolar, ainda não tem a base nacional definida. Essa delonga vai se arrastar por todo o ano de 2018. Ou seja, o ensino médio continua sendo o gargalo da educação. A Base Nacional Comum Curricular que vai decidir o que cada aluno vai estudar em cada série do ensino médio deverá ser normatizada no decorrer de 2018, para vigorar em 2019. Essa é a previsão otimista de Rossieli Soares da Silva, secretário da Educação Básica do MEC.
Importa lembrar, no entanto, que a previsão era de que o Ministério da Educação (MEC) entregasse o documento ao Conselho Nacional de Educação (CNE) no final de 2017, mas o governo admite que ele falhou nesse compromisso e que a redação final da BNCC/Ensino Médio só poderia ser encaminhada neste ano, o que ainda não ocorreu. Enquanto isso, o ensino médio padece de falta de identidade formativa e normativa, aprofundando a crise nacional que não consegue cumprir a meta de graduar 80% da população jovem até 2022. Quanto descaso nacional! Enquanto isso, a mídia fala de Neymar, Marquesine e da infeliz Jojo.
Rossieli havia afirmado que a prioridade da pasta ministerial era dar foco à conclusão da BNCC referente à educação infantil e ao ensino fundamental, que estava em discussão no CNE. Agora que essa etapa foi aprovada, fica a pergunta: E o ensino médio? Segundo o secretário, o documento deveria chegar entre janeiro e fevereiro deste ano ao CNE. Já estamos em março e, pelo que consta, nada foi encaminhado ao Conselho. Esse país brinca de ser sério. Enquanto isso, as unidades de ensino médio públicas não pagas estão sucateadas, aos frangalhos.
Cumprimento os estabelecimentos particulares, sobremaneira paulistas, que já se anteciparam à BNCC e introduziram mudanças curriculares corajosas na rotina do ensino médio. Só que elas atendem uma elite cultural brasileira de classe média e alta que pode pagar para estudar. O que dizer dos 80% da população jovem que depende desse desgoverno e desmando da educação pública gratuita? Honestamente, não sei qual das partes é a pior. Se a população, se os governantes.
Arrisco a dizer que a grande culpada é a população, que não aprendeu ainda que a educação é um dos direitos democráticos. Mais lamentável é sentir claramente na fala das como desprezam a cultura e a educação escolar. Os manipulados não percebem a manipulação e são piores que os manipuladores. Isso me entristece, pois o pior governo é o de uma sociedade que não entendeu ainda o alcance da soberania popular apregoada há pelo menos três séculos por Jean Jacques Rousseau.
Nessas alturas, os professores do ensino médio que perceberam o drama do ensino médio, que precisa construir uma nova identidade, se veem isolados e desacreditados de seus sonhos e de suas iniciativas inovadoras. E um bando de acomodados ri do esforço deles.
E enquanto a BNCC do ensino médio não é regulamentada, mesmo os acomodados estão perdidos sem saber para qual Enem deverão preparar seus alunos, como continuar com a ultrapassada prática de transmissão de conhecimentos (que a internet faz tão bem e de forma bem mais interativa e criativa) e o que fazer com alunos desinteressados, cujo desinteresse é o recado maior de que o ensino médio esgotou suas possibilidades de funcionamento, por viver o drama da falta de identidade de uma etapa de aprendizagem cujo currículo e metodologia precisam ser, imediatamente, desmontados e reconstruídos.
José Antônio dos Santos
Mestre pela UFSJ
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Escrito por Educação, no dia 15/03/2018